Dance em silêncio

Ilustrações – Mandalas natureza

Escuto o silêncio. Os traços dizem, quando não quero falar.

GeraldoCunha

Série distopia – Morada dos ventos

Série Surtados – Amizade

Série Surtados – Sobras

Poema de improviso – Invisível

Hoje quero sair por aí

ir a lugares não percebidos

ver pessoas não vistas

fotografar invisibilidades

andar em ruas desertas

cumprimentar carros estacionados

esquecido do verão

quero sentir o perfume de rosas

tocar suas cores que não estão lá

pisar na grama

sentir a terra que as hospedou

Voltar para casa e me vestir

(GeraldoCunha/2023)

Série improváveis- Indelicado

Não viu as vestes de tristeza

A face sisuda demonstrando

[descontentamento

Deslumbrando-se com a própria sombra

projetada no chão

escura como a alma

Carregava também o peso das

[inseguranças

Não havia atrevimento nos olhares

Duas mentes remoídas

remoendo angústias

desconectadas

Bocas falando para ouvidos surdos

(GeraldoCunha)

Série Uma saudade : Saudade tem pressa

Saudade é para ontem

não pode esperar.

Tem o tempo que se contrapõe

[e não desacelera.

Quando se vê tem “O Tempo” do poema de Mário Quintana.

Não tem mais as estações do ano.

Se vai chover,

Se o sol vai se pôr,

Se há folhas de outono,

Se aqui nunca nevou.

Quando foi a primavera?

O tempo não ajuda,

A saudade não facilita.

Têm este combinado.

E não guardam segredo.

Precipitam!

Nós só lamentamos

e as lamúrias disfarçamos,

com arremedos de vida,

frases pré-moldadas,

recortes de poemas.

Embaralhamos:

saudade e tempo,

tempo e saudade,

tempo da saudade,

saudade do tempo!

E não é mais para agora.

Saudade

esparadrapo

da ferida que o tempo não cura.

(GeraldoCunha/2023)

Poema diário- Melancolia

Poema Diário – volúpia

Poema diário – instante

Poemas experimentais – Entremeios

são três

um no entremeio

entre dois lados

um sim

um não

um talvez

a linha

do delimite

de um do outro

um corpo

dois corpos

o calor entre

a casca

o lambuzado

o bagaço

a carne

a tentação

as carnes

parte

entre

parte

(GeraldoCunha/2023

ArteGeraldoCunha

G

Poemas experimentais – Horizonte belo

O Horizonte é belo

em dias nublados

no limite sul

a serra se descortina

Em dias de calor

raios de sol

integram à paisagem

Projetada à sombra

o Monumento à Paz

aponta para o alto

na fé abençoa o povo

Tal Cristo Redentor

sob ataques de falácias

direciona o horizonte

abre os braços

para a avenida

que se ramifica

em estados e tribos

aos berros de buzinas

esquecidos os elos

escutam-se sons de pássaros

glorificando a paz

das montanhas

das matas ribeiras

(GeraldoCunha/2023)

Pelas lentes de GeraldoCunha

Poemas experimentais – Versos sôfregos

O inóspito do entardecer dos versos,

Que queimam à luz do último clarão,

O suspiro de um poeta agarrando-se ao inominável,

Que as palavras insistem em descrever.

Cada frase é sofrida de dor da alma

e o corpo sente por igual.

(GeraldoCunha/2023)

Arte GeraldoCunha

Cotidiano

Cite cinco coisas do cotidiano que deixam você feliz.

poesia

acordar

cheiros

comer

água

Poemas experimentais – Grãos soltos

desertos dias

o vento sopra

as areias

espalham grãos

atacam os olhos

invadem os calçados

largados no assoalho

porção terra

irritam os pés

arrastados

desérticos dias

de nuvens praias

e lábios secos

(GeraldoCunha/2023

Beija-flor (Grafite por GeraldoCunha)

Poemas experimentais – Teia de aranha

No teto

sobressai

a seda tecida

milimétrica

pontilhada

É bela

mas irrita

os olhos

observadores

pousa a xícara

desacomoda-se

Espanta a aranha

que escapa dos pés

socorre-se na luminária

Destroça o bordado

que se prende à piaçava

linhas disformes

Aquieta a vassoura

na quina da mesinha

Abre uma caixa

Senta-se na poltrona

Afia as garras

e se põe a tricotar

(GeraldoCunha)

Poemas experimentais – biotipo

Sou o que me descreve.

As canções. Feitas para mim. Que são todas com as quais me identifico. As melodias que minha alma valsa. O estranho som. O eclético. Aquela que me difama. Silêncio. Estrondo. Contradição.

Os poemas. Que não escrevi. E recito. Como se fossem a minha voz. O desarranjo das palavras que soletro no papel. Amando ou indignando. O verso. A métrica. O escândalo.

As pessoas. Que me envolvem. Com todos os abraços. As que afastam. Os braços. No trânsito sou um rosto. Sem expressão. O espanto. Medo. Reação.

Os objetos. Dispostos na estante. Engavetados. Adornos. Restos de mim jogados no lixo. A roupa que me tira a nudez. Sou pudor.

A solidão. Um rosto na multidão. Sou todos. Não estou sozinho.

A palavra. O singular e o plural. A mensagem que me chega. O poema compreendido. O protesto. O risco no espelho.

(GeraldoCunha)

Poemas experimentais – Fundo do poço: uma teoria

Quando chega ao fundo do poço

Fica lá

Por um tempo

Observa

as texturas

Estando escuro

acostume a visão

havendo luz

ajuste as pupilas

Não se desespere

No desespero

espere

Fica lá

Respire

Inspire

Sinta o ar

no pulmão

na mão

Observa

a direção

Toque

as paredes

encontre as ranhuras

Use as garras

e suba

caia

e suba

precisando

Fica lá

restabeleça

Observa

Repita

(GeraldoCunha)

Poemas experimentais – Ocupe o oco do seu ser

No vazio de nós

Sentimos as dores outras

Somatizarmos

Absorvemos

Sofrendo um sofrimento sem sentido

Pois não é nosso

Apenas se apropriou do espaço

do nosso vazio existencial

É ocupar todos os nossos vazios

Preencher cada canto

Invadir o meio

não deixar vago

o que pode ser o oco

buscando fora a dor do outro

Não se cura dor absorvendo a do outro

Não se abstrai de culpas

abraçando dores alheias

O melhor remédio é compreender

viver o luto pelo breve longo necessário

que não seja eterno

No eterno

Veste-se o terno elegante

Encerra a dor sua

O outro segue

(GeraldoCunha)

Poemas experimentais – Nem tudo é flores

no jardim das poéticas

ervas daninhas, pétalas, rabiscos, espinhos, folhas secas, papel A4, joaninhas pintadas, nos galhos quebrados, cores de Almodóvar, ao som de Calcanhoto, poeira de vento, uma cigarra cantando, eu dançando, a natureza compondo, a terra sob a unha, o brotar, a gota de orvalho, o canteiro preparado, que rima com arado, o sol queimando, muitas borboletas, outrora indesejadas lagartas, a contradição, as palavras, mudas, enfileiradas, falam, outra contradição

tudo são flores

(GeraldoCunha)

(Título inspirado em minhas primeiras lições – na gramática concordância verbo ser – esta frase nunca saiu da minha cabeça, era a poesia me chamando)

Poemas experimentais – Flor e espinho

Desviados os espinhos

que protegem as flores

Às narinas o perfume

Aos olhos as cores

Ao toque a maciez

Se arrancada

mesmo ao ataque dos espinhos

A flor resiste

por menos tempo vive

Sangra a mão e a flor

Uma pelo egoísmo

A outra por ter sido violada

Quisera de longe

observar

sentir

imaginar

a delicada beleza

delicadeza

da seda cor veludo

Respeitando os espinhos

haveria jardins de jardins

(GeraldoCunha)

Excertos improváveis

Excertos improváveis
no ano de 2021 tive a ousadia de selecionar alguns poemas, separados por capítulos e permeados por ilustrações, tudo de minha autoria, envolvidos por uma capa contendo o título “Improváveis/livro de poemas”. Improváveis informa ao leitor que a escrita está ao alcance de todos.
Improvável para mim é tudo aquilo que você pensou que não seria capaz, foi lá e fez, desacreditando os conceitos estabelecidos.
A @editorialcasa também acreditou no improvável e fez acontecer a poesia.
E você, pela leitura e percepção, concretizou o improvável, pois as palavras só se convertem em poemas pelo olhar do outro.
Poema completo: Improváveis/livro de poemas
Autor: GeraldoCunha
Interessados na aquisição de um exemplar: Amazon

Série afetos – Muitas idades

Minissérie: escrevo flores