Réstia de luz


Réstia de luz

Sem nenhuma esperança, deixei desarrumada a cama.
Sem nenhuma perspectiva, as roupas ficaram espalhadas pelo chão.
Sem nenhuma expectativa, quis as cortinas cerradas.
Sem nenhuma inspiração, os papéis amassados foram atirados ao canto.
Sem nenhuma motivação, debruçei-me sobre a mesa e só fiquei.

Sobre a mesa, fiquei jogado, esperando o inesperado.
Sobre a mesa, além de mim, papéis sem nenhuma expressão.
Sobre a mesa, esquecido sob os papéis, um lápis desapontado.
Sobre a mesa, ainda mantinha os olhos entreabertos.
Sobre a mesa, havia percebido uma réstia de luz.

Com um pouco de entusiasmo, apontei o lápis.
Com um pouco mais de entusiasmo, organizei os papéis.
Com um pouco de entusiasmo, encorajei rabiscos.
Com um pouco mais de entusiasmo, dei forma à imaginação.
Com um pouco de entusiasmo, transformei aquele momento em poesia.

Agora cheio de esperança, ergui-me sobre a mesa.
Agora cheio de perspectiva, pus-me a escrever.
Agora cheio de expectativa, abri as cortinas.
Agora cheio de inspiração, recolhi as roupas espalhadas e estendi o lençol.
Agora cheio de motivação, fiz daquele o meu melhor momento.

Escrever liberta (reeditado)


Escrever liberta

Não sou escritor, mas escrevo.
A escrita me liberta.
Não sei se serei lido, compreendido, amado ou ignorado.
Ao escrever deposito nas letras minhas alegrias,
tristezas e me liberto dos sentimentos que povoam minha mente,
dando espaço para outros ocuparem esse lugar.
Assim vou vivendo.
Às vezes escravo de meus pensamentos, às vezes liberto.

Divagação 61

Se você conseguisse ler os meus pensamentos noturnos e inconfessáveis, ruborizaria, apavoraria ou se apaixonaria.


(GeraldoCunha/2017)

Poema da preguiça


Há tanto para se fazer, mas não por agora.
Há tempo de sobra, muitos são os relógios.

É o deixar para amanhã, com sensação de culpa.
É o desperdício do tempo, sabendo que não há volta.

E o agora vai ficando para depois, sem nunca chegar.
E por agora é o suficiente, pois o depois parece não ter hora.

É o querer ficar, ficar e só ficar.
É o querer segurar os ponteiros do relógio.

É o tempo da sempre espera, sem qualquer realização.
É o tempo mesmo de esquecer e de perder a razão.

(GeraldoCunha/2017)

Paciência – (in)sano ser


Nas noites de insônia quem é sua companhia?

Paciência – (in)sano ser

Tenha paciência comigo.
Há um louco que me habita.
Às vezes nem mesmo eu o suporto.
Mas este ser insano, na verdade, é quem sou.
Suas insanidades me torna especial entre os demais.
Esta parte que mais o incomoda talvez seja o meu melhor.
Por isso mantenho-o inquilino, mesmo querendo despejá-lo.
Hoje este habitante é a justificativa para você querer tanto partir.
Ontem foi protagonista de tantas histórias que fez você querer ficar.

(GeraldoCunha/2017)

Paisagem Pedra do Sabiá (reeditado)


TEXTO ESCRITO EM UM LOCAL DE MEDITAÇÃO – Itacaré/Bahia
Paisagem Pedra do Sabiá (reeditado)

A vida é simples!
É preciso apenas ser, estar e fazer acontecer.
Simples no olhar, no falar, no sentir, para seduzir ou ser seduzido.
Como que com pinças, retire da sua paisagem o que não for simples ou estiver destoando,
Realoque outras que estão no lugar errado.
Esqueça o que foi descartado e olhe outra vez.
Nessa simplicidade se traduz a vida e as relações.
Energias que se atraem!
Esta é a química das relações que compõem o sopro da vida,
Proporcionando encontros e desencontros.
A falta dessa sintonia é a razão de estarmos no mesmo espaço e tempo, mesmo assim, tão distantes.
Não estamos na mesma paisagem, apesar de o contrário parecer aos olhos.
Vendo você ou você me percebendo, criamos a mesma paisagem,
Estaremos em sintonia e poderemos escrever uma nova história.
(02/01/2016 – Paisagem Pedra do Sabiá, Gcc)

Divagação 60

Acho interessante o que você representa, mas não basta, preciso amar quem você é.
Esconda sua vaidade e revele sua alma.

(GeraldoCunha/2017)

Poema da indiferença


Quando percebemos não tinha mais nada para ser dito.
Indiferentes, acabaram-se as palavras de carinho.
Não havia mais desejo, prazer ou curiosidade.

Os sentimentos se foram, nem a saudade restou.
Indiferentes, somente a solidão nos fazia companhia.
O desejo de conversar foi substituído pela obrigação.

De tudo ficou o vazio e aos poucos o silêncio.
Indiferentes, do simples prazer de estarmos juntos nada restou.
Nem as lembranças ficaram, as memórias foram apagadas.

Todo o esforço para ficarmos juntos foi em vão.
Indiferentes, a cada tentativa só nos distanciávamos.
Solitários não nos reconhecíamos como antes.

Tornamos almas vazias em corpos estranhos.
Indiferentes, seguíamos o protocolo social e nada mais.
Ocupávamos o mesmo espaço sem trocar olhares.

Não sabíamos mais quem éramos.
Indiferentes, seguimos caminhos opostos.
Sabíamos que juntos não fazia sentido.

Toque


Não quero pessoas intocáveis, preciso sentir o tato, o cheiro, o sabor e escutar sussurros desassossegados.
Desavergonhadamente quero tocar, cheirar, saborear e silenciar.
Calorosamente quero o toque, o sentir, o saborear e abafar o som da sua voz.
Atrevidamente quero ser tocado, sentido, saboreado e escutado.
Calmamente quero não tatear, não cheirar, não sentir e não escutar,
candidamente adormecendo em seus braços.

Divagação 59

Não há grades ou redes que possam esconder a beleza de um jardim quando se quer contemplado.

(GeraldoCunha/2017)

Poema para você 


(Gostou? veja também Poema roubado)…
Parece que foi ontem,
Percorremos tantos caminhos,
Alguns andamos juntos,
Outros seguimos separados,
Contingências da vida,
Mas sempre unidos em pensamento,
Torcemos pela felicidade um do outro.

Parece que foi ontem,
Dividimos alegrias,
E foram muitas,
Compartilhamos tristezas,
E não foram poucas,
Com a mesma intensidade,
Comemoramos nossas vitórias,
Choramos nossas perdas.

Parece que foi ontem,
Não vimos o tempo passar,
E não nos preocupamos,
O tempo é apenas um detalhe,
Quando construímos uma amizade tão sólida,
Amizade é isso, não dar importância ao tempo,
Já que quando nos encontramos e nos falamos,
Parece que foi ontem.
(GeraldoCunha/2017)

Poema da indecisão 

Poema da indecisão

Quero tudo
Quero nada
Não sei se quero
Só sei que quero
Talvez vá
Pode ser que fique
Quero não querer

Tudo me sufoca
Nada me satisfaz
Quero não ser assim
Quero ser de outro modo
Vá que talvez eu siga
Fique para não ter que ir
Querer e não saber o porquê

(GeraldoCunha/2017)

Divagação 58

Saudade, sentimento que não precisa de plural.

(GeraldoCunha/2017)

Poema do Medo

Apavorado me arvoro a correr.
Ofegante olho para trás insistentemente.
Atrás vejo sombras que não existem.
Produzidas pela minha mente, apavoram.
Volto-me para a frente, querendo esquecê-las.
O que vejo adiante entorpece.
É o receio daquela sombra se tornar real.
Anestesiado, corro sem sair do lugar.
Reconheço o medo, pois já incontrolável…
Me torna cego, surdo e mudo.
Sem controle me entrego.
Visto a sombra inexistente que me persegue.
Sucumbo ao medo e já não há mais saída.

(GeraldoCunha/2017)