Poeta da solidão


Sinto uma solidão imensa,
Mas quero estar sozinho,
Para sentir a saudade:
Dos braços acolhimento,
Do toque sedução,
Do colo aconchego.
Não aprendi a amar!
O pensar do amor
Foi arremedo de gostar.

Os poetas amam a solidão!
Afastam-se da realidade
Para sofrerem por demais,
Iludidos pelas emoções,
Enamoram-se das palavras.
Esquecem de amar
E observam a vida a passar,
Como páginas em branco
Arrastadas pelo vento.

Na solidão das palavras,
O querer estar junto é ilusão,
Realidade que perdeu para ficção.
E o vulto do amor escapa:
Pelo reflexo do espelho,
Pela penumbra da cortina,
Pela sombra que cruza a esquina.
Não há quem fique à espera
De quem está só amando o vazio!

(GeraldoCunha/2020)

Série Títulos: Caverna do Dragão


Os infelizes vivem. Não percebem a felicidade que passa. Enquanto isso gritam e choram. Buscam uma saída sem saberem o que há do outro lado. Só querem fugir. Só querem retornar. São felizes não sabem. Acreditam que a felicidade está lá fora. Insistem na felicidade que ficou no passado. Tentam uma saída para o escape das mazelas. Sempre voltam ao começo. Vivem e não percebem a aventura. Têm medo da felicidade. Do presente e do futuro. Acreditam que ao alcançarem a felicidade serão plenitude. E morrerão tentando ou serão castigados. Não enxergam as recompensas. Seguem infelizes os viventes. Enquanto a felicidade lhes sorri. Sorri para o vazio dos que a buscam. Os infelizes acreditam que a felicidade é o amanhã. Pobres coitados.

(GeraldoCunha/2020)

Série Visitando 2016 (tudo começou assim…) Crônicas de um sujeito sem rumo

Fazia planos todas as noites, esperando começar a realizá-los logo que o dia amanhecesse.Mas o sono não vinha, se vinha era por pouco tempo, sobrava tempo para mais reflexões.

Mais planos eram idealizados, diante da percepção de que muito ainda podia ser feito para alterar por completo aquela vida que estava ali, por tanto anos, parada, no mesmo lugar, sabotando qualquer tentativa de fazer diferente.

Amanheceu. Agora sonolento pela noite mal dormida, já não se lembra de todos os planos traçados, os poucos que se recorda pensa que podem ficar para outro dia, o sono tardio convida a ficar na cama.

Desperto, já tarde do dia, percebe que nada mudou, acordou, tomou café, ouviu a música de sempre, comeu a refeição e deitou novamente, depois de tentativas de sair daquela rotina.

Já não importavam os planos traçados na noite anterior. Dentre os poucos de que ainda se recorda, para cada um, uma desculpa para começar a colocá-los em prática mais tarde.

Com a tarde indo embora e a noite querendo se mostrar, percebe-se sem rumo. Nada fez, permitiu que a vida continuasse exatamente como está. Fez um lanche, comeu uma fruta e tomou um gole de café.

Em frente à televisão hipnotizado e sem esperança, fazendo-se acreditar que os planos não eram para hoje e que poderiam ser colocados em prática amanhã, quando aquelas desculpas já não fizessem mais sentido e outras não pudessem ser inventadas, espera por nada, até a hora de tomar um copo de leite e deitar novamente.

Anoiteceu, deitado, é hora de refazer os planos, pensar nos motivos e desculpas que impediram fossem realizados e ter esperança de que estes novos planos lhe darão um rumo diferente, mas o sono não vem.

(Geraldocunha/2016)

Olhos baixos

De olhos baixos
Não vi o CÉU.
Esqueci das estrelas.
Firmei o pés no CHÃO.
Criei raízes de rancor,
Que fizeram florescer ESPINHOS,
Que mais feriram do que PROTEGERAM.
Sem FLORES,
Sem CÉU,
Sem ESTRELAS,
Sem VOCÊ,
Eu CHÃO.

(GeraldoCunha/2020)

Série Poema Curto: Coração

Não marque hora

É só chegar.

Não mande aviso.

Nem pense em recado!

Deixe de lado o recato.

O meu coração,

Gosta de surpresas,

Desgosta que bata à porta,

Prefere que venha invadindo.

(GeraldoCunha/2020)

Porta entreaberta


Não queria estar só.
Timidamente me recolhia,
escondendo atrás das cortinas,
espreitando as frestas das janelas.
Na iminência da proximidade,
sorrateiramente me entranhava
entre as cobertas e ficava ali,
atenciosamente,
prendendo a respiração ofegante,
esperando retornar ao conforto da minha solidão.
Novamente sozinho pensava ter
recuperado minha liberdade,
antes ameaçada,
mas logo percebia que o estar
sozinho não era liberdade
e sim solidão.
E só eu não queria estar.
Impulsivamente eu emergia
daquelas cobertas
que serviam de refúgio e,
ainda ofegante,
abria as cortinas atrás das quais me escondia,
escancarava as janelas,
deixando o ar e sol invadir aquele quarto
e, loucamente,
pedia para você voltar
pela porta entreaberta.

(GeraldoCunha/2017)

Divagação 82


Queria apagar todas as poesias.
Mas não se apaga o passado.
Nem o desejo de um futuro melhor.
É só um desalento poético do presente.

(GeraldoCunha/2020)

R E P E T I Ç Ã O


Eu repito as palavras
Repito
As
Palavras
Repito…
Tem ideias que são boas,
E logo não fazem mais sentido!
Repetição…
Ideias sem sentido!
Sentido.
Até que esbarram no papel.
Impregnam nas ranhuras
E sentem,
Nos acentos tônicos,
Nas interjeições,
Nas interrogações,
Até o ponto
É final.

(GeraldoCunha/2020)

Série Poema Curto- Exigências


Não exija de mim,
Uma serenidade,
Que você não tem.
Uma paciência,
Que você não cultiva.
Uma atitude,
Que você deseja.
Um desejo,
Que é só teu.

(GeraldoCunha/2020)

Divagação 81


Não deixe que o silêncio e a indiferença do outro diante das suas escolhas te defina.
Se foi capaz de fazer escolhas é capaz de minar a indiferença dos outros com seu sucesso pessoal.

Série Open – Só queria dizer


.Só queria dizer, Que foi bom enquanto durou, Se hoje sofro pelo silêncio, Amanhã serei outro, E todo este sentir, Será saudade, Até já não ser mais, Aí será esquecimento, Só queria dizer, Que não compreendo a ausência, Mas respeito a distância, É o tempo da reflexão, Necessária para saber se valeu a pena, Ou se foi só um encontro do acaso, Que hoje já não faz mais sentido, Só queria dizer, Que estou triste, Não guardo mágoa, A que resta vai passar, É preciso ter esta compreensão, Somos todos idas e vindas, Encontros e desencontros, Há muito caminhos, E foi muito bom enquanto por alguns percorremos juntos, Se outros se seguirão, Já não sei, Já não sabemos, O silêncio impede este saber, Só queria dizer.

(GeraldoCunha/2020)

Série Elos – Caderno de emoções


Arrancaram as minhas emoções.
Quebraram as pontas dos lápis
E as tintas das canetas secaram.
O papel não segura mais as palavras!
As cores estão desbotadas.
É que já não sinto mais o amor.
As poucas emoções que me restam
Escapam entre tédio e desesperança!
Deixando espaço para a inércia.
Sem as vontades é sentir para menos
E o tempo mesmo assim não se segura.
Sou cadernos abandonados na estante.
Folhas rasuradas com lágrimas
E suor dos calafrios das noites vazias.
Emoções espalhadas entre os livros.
Sou rabiscos ilegíveis,
Pedaços de poesia esquecidos em guardanapos!
O desenho na poeira sobre a mesa.
E foi o que restou de mim!
Cadernos de emoções que não se leem.
Sentimentos arquivados à espera do amor!

Arte: Mi Cruz – do blog mcmistturacriativa.wordpress.com

Texto: GeraldoCunha

Mesa para dois – 02/02/2020


Mesa para dois

Sentados de mãos
Entrelaçadas.
Entre olhares
Que não se cruzam,
Que se fundem.
Dedos que se
Tocam,
Suavemente…
Desenhando
As iniciais do seu
Nome.
Enquanto
Suavemente
Acaricias a borda
Da taça
Pela metade
Devorada.
Absortos
Neste jogo
De sedução.
Alheios ao
Imponderável
Do tempo.
Vibram os corpos
Desejosos
Um do outro.

(GeraldoCunha/02/02/2020)