Um pouco de poesia, um tanto de poemas, outros de ilustrações, sem esquecer da fotografia e muito mais de arte. Produção de GeraldoCunha autor da obra Improváveis – Livro de Poemas, edição 2021. Contato pelo instagram @divagacoes.geraldocunha
ervas daninhas, pétalas, rabiscos, espinhos, folhas secas, papel A4, joaninhas pintadas, nos galhos quebrados, cores de Almodóvar, ao som de Calcanhoto, poeira de vento, uma cigarra cantando, eu dançando, a natureza compondo, a terra sob a unha, o brotar, a gota de orvalho, o canteiro preparado, que rima com arado, o sol queimando, muitas borboletas, outrora indesejadas lagartas, a contradição, as palavras, mudas, enfileiradas, falam, outra contradição
tudo são flores
(GeraldoCunha)
(Título inspirado em minhas primeiras lições – na gramática concordância verbo ser – esta frase nunca saiu da minha cabeça, era a poesia me chamando)
Lançada originalmente no Instagram esta minissérie de desenho a cores e versos é sobre os sentimentos que os pássaros, os desenhos e as cores nos transmitem.
Não tivesse eu me arriscado nos traços e na escrita e me desavergonhado de mostrá-los não teria enxergado a beleza de tantas descobertas e os tantos caminhos que se abrem.
Uma ilustração perfeita é só mais uma ilustração. Uma ilustração com as imperfeições, da exclusividade dos traços trêmulos da emoção do momento, tem uma história para se contar.
De uma estação à outra, folhas nascem, crescem, secam, caem e as flores espalham o pólen; à outra, os galhos finos, engrossam, envergam, escurecem, cascam e descascam… secam a seiva e desabrigam as folhas; à outra, os pássaros, vermelhos, cinzas, todas as cores, cantantes, papagaios e … os beija-flores… meus encantamentos; besouros e mais insetos, morcegos, todos não serão mais, além do seu tempo; à outra; o sol mais quente, sem as águas certeiras, sem março, junho, setembro, dezembro nos desajustes, nos desencontros, nas inobservâncias do insubstituível. Um dia esta árvore em poema restará, não estará mais aqui, nos não estaremos, naturalmente; à rua restará os concretos, asfaltos, carros, as estações e um canteiro ao replantio.
Gosto de nomear Dar nomes aos regalos Meu passarinho de madeira não é mais de madeira é o Sebastião O pássaro de origami não é mais Tsuru ….. é Miyake e nisto não se tem nenhum desrespeitoAs tartarugas moldadas ao barro pelas mãos da criança à beira da estrada Lembram um dia na Serra do Cipó, Vestiram-se de Araci, Arlete e Matilda E aquela criança deve ser hoje um adulto… um artista… espero. Os São Franciscos que vão chegando não são só imagens devoção simbolizam paz esperança e amizade Ser lembrado acarinhado Como os pássaros que os circundam logo que chegam vão pegando intimidades de Chicos
O beija-flor, aquele do poema que vem na varanda, que se fez cotidiano, nas visitas pelas manhãs e agora às tardes (Certo que é visita de hospital) é O beija-flor pelas carnes os ossos as penas … e o bico que bebe da água que lhe sirvo e não me pede mais nada
Não tenho livros, tenho Pessoas, Clarices, Drumons, Gabos, Saramagos …. e uma lista desalfabéticas de outros tantos seus vizinhos que se juntam aos Mias , Conceições, Valteres , Quintanas e fazem festa ao som de Abelhas Rainhas Rouxinóis Sabiás que pousam em guardanapos de papelSó falta objetivar pessoas, não todas, algumas, aquelas que se desumanizaram sem volta.
A tomar chá quente. Que quem se preocupa liga. A entender que a solidão não é só minha. Que não sou só eu quem precisa dar o primeiro passo. A não levar as mãos no nariz. Que quem tem ambição continuará tendo ambição. A lembrar de regar as plantas. Que quem é solidário ainda é mais solidário quando é preciso ser solidário. A não acumular porque vai ter que limpar. Que quando alguém ausente diz “você está guardado no meu coração” é porque perdeu a chave. A ocupar os espaço vazios. Que os alienados continuarão alienados ou mais. A deixar o acaso dizer a que veio. Que as maiores distâncias podem ser percorridas em um passo. A não ter pressa ou pensar que tinha.
afagos afetuosos na barriga que cresce rompido o cordão umbilical lágrimas esquecidas das dores no primeiro beijo melado
risos soltos ou severos nos acalantos diários que sobrevoam a noite ninam choros insistentes dengosos dos carinhos
cafuné na criança aproveitada do colo de mãe que renuncia aos cansaços da lida entregando-se ao ócio maternal advertindo [com iras disfarçadas] as bobas traquinagens
braços que acolhem a adolescência rebelde recolhendo as próprias angústias curando dores alheias lambendo a cria tantas arredias
amor inconteste que acompanha adulta vida de quem vê eterna criançola fingindo não carregar tristezas suas doando-se por inteira incondicionalmente
Alegria triste Riso bobo Coceira no coração Frio na espinha Cheiro bom Areia no olho Olhar no nada Ir querendo ficar Canção mordida Abraço vazio Toque no invisível Infinito invadido O mar sem praia
Enquanto flores refletem o espelho, Rústicos traços riscam. Da janela vejo a riqueza do tempo, Celeste infinito descerra. Vejo o azul que desvela, Pandêmica tarde revela, A lua vai nascer. Olho pela janela, A luz ilumina a bancada, O medo se perde na paisagem Do belo e do perfeito. Todo o mundo fica feliz! Bateu isso na cabeça … Velhos umbrais Arrastam paisagens, Paineira pintada em aquarela! A vida pulsante é mais que existir no mundo. Os animais vão dormir à espera do acordar para outro dia começar. A criança, O adulto, Brincam de versos. Os pássaros, Ao buscarem alimento na janela Alimentam estas almas poéticas.
Criação coletiva de @mcmistturacriativa (Michele Cruz), @vicendron (Virgínia Carvalho), @dudinhaborbacunha (Maria Eduarda), @estevammatiazzi (Estevam Matiazzi), Fernando (do blog Chrosnofer), @divagacoesgcc.geraldocunha (GeraldoCunha), a partir do poema de mesmo título das Séries elos e agora desenhos.