Série poema curto – Paradoxo


Não ontem
Não mais cedo
Agora
Sou
Uma
Peça
Mínima
Nesta engrenagem
Substituível
Não daqui a pouco
Não amanhã
Agora
Olho
Para
Os lados
Só vejo
As cinzas
Uma semente
Terra
Água

(GeraldoCunha/2020)

Estatística (vale a pena publicar de novo)


Para muitos sou apenas estatística.
Faço parte daquele grupo de 10% de alguma coisa.
Estou entre os que contribuem com 30% para alguma coisa.
Pertenço a uma categoria que corresponde a 80% de alguma coisa.

Para muitos sou apenas o que diz minha ficha técnica.
Não tenho nome, apenas um número que me identifica e me difere.
Não tenho sobrenome, apenas um diagnóstico do que estou sentindo.
Não tenho codinome, apenas um receituário que não tem rosto.

Para muitos sou apenas mais um.
Que anda pelas calçadas forçando o desvio.
Que apressadamente ocupa a única cadeira desocupada.
Que inadvertidamente lança um olhar que intimida.

Para muitos sou apenas um gráfico.
Numa escala de um a cem, sou qualquer número.
Entre duas linhas, vertical e horizontal, estou para mais ou para menos.
Numa reta, oscilo entre altos e baixos.

Para muitos sou apenas estatística.
Para mim sou corpo e mente.
Para muitos sou apenas ficha técnica.
Para mim sou nome e sobrenome.

Para muitos sou apenas mais um.
Para mim sou um a mais.
Para muitos sou apenas um gráfico.
Para mim sou representatividade.

(GeraldoCunha/2017)

Enquanto isso…


Coelhinho da Páscoa não bota ovo
Só esconde os ovos no jardim
E é verdade que são de chocolate
E eu não gosto é do recheio e de Natal

Papai Noel não desce pela lareira
Vem pela porta da frente
Deposita o presente sob a cama
Eu não vi pois estava sonhando

Sonhando com os duendes
Mas eles não vivem nas florestas
Habitam o pote de doces na cozinha
Foi um quem me contou

E eu guardo seu segredo
Em troca de guloseimas
Que a fada dos dentes não me veja
Ou me manda para a terra dos gigantes

E continua …na terra do nunca!

(GeraldoCunha/2020)

4 anos de blog – agradecimento

Vai passar

Ainda não passou,
Mas gostaria de me antecipar
Para agradecer
A todos que estiveram comigo nos últimos meses:
Aqui, dialogando através de curtidas, comentários, trocas generosas que afastaram o frio do solitário.
Na vida, mantendo contato, escondendo suas angústias, disfarçando suas tristezas e preocupações, para confortar no distante dos braços.
É um momento de ressignificação, mas também de necessária compreensão.
Entendimento de que não somos perfeitos nas relações, nas amizades.
Somos humanos e algumas de nossas imperfeições são o nosso melhor,
Então não são imperfeições,
São apenas traços que nos diferenciam.
E está tudo certo!

… obrigado a todos de ❤️

(GeraldoCunha/2020)

Personagens de nós mesmos


Eu sou assim!
Foi o que Eu disse.
E todos partiram!
Tentei ser outro Eu,
Para que viessem, voltassem.
Vieram, voltaram alguns… por um tempo.
Mas não queriam este Eu,
Quereriam o outro Eu antes rejeitado.
E Eu notei…
Nunca fui outro.
Aí percebi o quanto sou injusto comigo.
Não sou Eu, são os outros.
Não compreenderam a essência do personagem.
É um alivio, um alento.
E só posso pensar:
Está tudo certo, como deve ser.
É como fechar um livro e abrir outro.

(GeraldoCunha/2020)

Séries experimentações: A resposta


De qual poesia você mais gostou?
– aquela que você ainda não escreveu.
Como assim?
– assim mesmo, aquela que está por vir, que faz você vibrar a cada palavra escrita e eu posso daqui ver os seus olhos brilharem, sentir o calor do sorriso acanhado do lado esquerdo da sua boca. É tímido e lindo. E você nem me percebe, ali no outro canto, a abraçar uma xícara de chá, envolver-me em uma manta a espantar o frio a te admirar.
E eu respondo:
– Percebo, pois você é minha inspiração.
E você responde:
– e você é minha poesia.

(GeraldoCunha/2020)