Hoje eu não fui nada por você ou fui tudo?

Hoje todas as palavras ditas por você foram para me machucar.
Hoje todos os momentos em que você estava por perto foram para me ferir.
Hoje toda desatenção que você me dispensou foi para mostrar seu desprezo.
Hoje eu não representei nada para você, não tinha nenhum valor, nenhuma qualidade.

Hoje via impresso em você satisfação por me machucar com palavras atravessadas.
Hoje percebia em seus gestos o prazer a cada ferida aberta por você.
Hoje havia em você uma satisfação a cada percepção do desprezo a mim dispensado.
Hoje talvez você tenha terminado o dia feliz por me machucar, ferir e desprezar.

Hoje eu só! volto para casa mais triste por você, mas machucado.
Hoje eu só! volto para casa para curar as feridas.
Hoje eu só! volto para casa para tentar entender o seu desprezo.
Hoje eu só! volto para casa mais triste com você, um pouco triste comigo.

Hoje com minhas atitudes fiz você se mostrar pessoa amarga.
Hoje com minhas palavras fiz você se revelar pessoa desprezível.
Hoje com meu rancor pelo desprezo fiz você se manifestar insensível.
Hoje achei que tinha sido nada, mas fui tudo para quem você é.
(GeraldoCunha/2017)

Divagação 63

Amor que não é cuidado aos poucos, aos poucos vira mágoa, aos muito vai sumindo, aos muito morre.


(GeraldoCunha/2017)

Flecha

Lançada em qualquer direção.
Seguiu rumo incerto,
Atingiu meu peito.
Fosse mirada no alvo,
Não teria tanta precisão.
Cravada,
Fez brotar a dor da paixão.
Tivesse atravessado,
Não teria causado tanto estrago.
Cicatrizava.
Cicatriz é como saudade,
Só fica como lembrança.
(GeraldoCunha/2017)

Poema do único amor

Amor é seu sinônimo.
Amar é verbo que pratico com você.
Amado é como sinto ao seu lado.
Amável são suas palavras.

Amo ser sinônimo.
Amo praticar com você.
Amo estar ao seu lado.
Amo ouvir sua delicadeza.

Dispenso antônimos.
Destituo a solidão.
Discordo da distância.
Desprezo o silêncio.

Amo, simplesmente amo.
Amo, simples assim.
Amo, assim.
Amo, sim.

Amo.

(GeraldoCunha/2017)

Ilhado


Preso em meus pensamentos.
Escravo dos meus medos.
Ilhado sem ter para aonde ir.

Fixado em ideias torpes.
Perdido em mundo de angústias.
Ilhado sem ter para quem ir.

Prisioneiro sem grades.
Escravizado sem grilhões.
Ilhado em meio à multidão.

(GeraldoCunha/2017)

Contraditório

Semblante triste e alegria contida.
Entre tantas, uma única saudade.
Sentido-se sufocado, falta algum sentido.
As pessoas estão por aí, sinto falta, não sinto vontade.
Contraditório.

Tudo soa estranho.
Sentimento de solidão, querendo estar só.
Sentindo-se bem, mas sentindo falta.
Contraditório.

Sentindo-se anestesiado pelo tempo.
Paralisado no tempo, sem perceber para onde foram todos.
Querendo dividir sem ter com quem, sem querer alguém.
Sentindo-se esquecido, sabendo-se lembrado.
Contraditório.

Sentindo entediado, sendo o tédio.
Sem graça, querendo tirar o riso.
Sentindo sem tempo, tendo todo o tempo à disposição.
Contraditório.

Sentindo-se desconfortável nesta situação confortável.
Acomodado e incomodado.
Sem entender o que está acontecendo.
Tudo deixou de ser importante.
Falta de projetos concretos entre tantos projetos inacabados.
Contraditório.

(GeraldoCunha/2017)

Estatística

Para muitos sou apenas estatística.
Faço parte daquele grupo de 10% de alguma coisa.
Estou entre os que contribuem com 30% para alguma coisa.
Pertenço a uma categoria que corresponde a 80% de alguma coisa.

Para muitos sou apenas o que diz minha ficha técnica.
Não tenho nome, apenas um número que me identifica e me difere.
Não tenho sobrenome, apenas um diagnóstico do que estou sentindo.
Não tenho codinome, apenas um receituário que não tem rosto.

Para muitos sou apenas mais um.
Que anda pelas calçadas forçando o desvio.
Que apressadamente ocupa a única cadeira desocupada.
Que inadvertidamente lança um olhar que intimida.

Para muitos sou apenas um gráfico.
Numa escala de um a cem, sou qualquer número.
Entre duas linhas, vertical e horizontal, estou para mais ou para menos.
Numa reta, oscilo entre altos e baixos.

Para muitos sou apenas estatística.
Para mim sou corpo e mente.
Para muitos sou apenas ficha técnica.
Para mim sou nome e sobrenome.

Para muitos sou apenas mais um.
Para mim sou um a mais.
Para muitos sou apenas um gráfico.
Para mim sou representatividade.

(GeraldoCunha/2017