Páginas em branco

Olhando fixo para o papel ainda branco, apenas com alguns riscos sugerindo algo a ser contado.

O vazio daquelas páginas, retratando uma alma escravizada por pensamentos que não querem se mostrar.

Folhas e folhas descartadas em um canto, arremessadas pela implacável dúvida de como começar.

A cada tentativa uma nova palavra surge, dando sentido à anterior, mas pedindo um complemento que não vem.

(GeraldoCunha/2016r)

Nessa de não ter Tempo

Nessa de não ter tempo
O tempo passa
Não espera
Tem pressa
Se apressa
Com pressa
O tempo passa
Nessa de não ter tempo
O tempo para
Não move
Tem preguiça
Se espreguiça
Com preguiça
O tempo para
Nessa de não ter tempo
O tempo esquece
Não sente
Tem falta
Se conforma
Com a falta
O tempo esquece
Nessa de não ter tempo

(GeraldoCunha/2017)

Sobre não mais

Deixei para trás os trapos.
Desnudo me reinventei.
Que outros os carreguem.
Mas que não me sigam!

Abandonei as convicções ultrapassadas.
Descrente fui em busca de novo saber.
Que outros se agarrem àquelas convicções.
Mas que não me sigam!

Despreocupei com sinais não correspondidos.
Desiludido procurei outras formas de comunicação.
Que outros continuem insistindo em sinais inócuos.
Mas que não me sigam!

(GeraldoCunha/2017)

Perdas emocionais

Anos de grandes perdas emocionais.
Sem tempo de recuperação.
Sem tempo de respiração.
Sem tempo de reparação.

Tantos partiram e com eles suas melodias, suas poesias.
Tantos se foram e com eles seus afetos, seus afagos, seus abraços.
Tantos deixaram um rastro de saudade, um vazio na alma.

Emoção na doce lembrança.
Choro incontido.
Lágrima que escapa.

Saudade que não tem mais como.
De tanto se agarrar nas lembranças,
De tanto se firmar nas imagens,
De tanto se prender nas sonoridades,
De tanto se aconchegar nos cheiros.
(GeraldoCunha/2017)

Já não sei… Eu só! (Reeditado)


Já sem esperança resolvi acreditar na vida!
Quando tudo ficou em silêncio pude perceber que estava só.
Já não sou mais necessário, não faço falta!
Se sou lembrado já não sei, ninguém me diz.
Ninguém ri daquela piada engraçada que conto.
Já não conto piadas, não tenho para quem contar.
Cruzo o tempo todo com pessoas estranhas,
Até quem eu pensava conhecer virou um estranho!
Hoje luto para sobreviver,
solitário no meio de tantas vozes, vivo!
(poema escrito em 2016)

Palavras – Liberdade poética

Não tenho mais as palavras.
Me foram, roubadas.
Me foram, poupadas.
Não me foram devolvidas.

Não temos mais as palavras.
Se foram, usadas.
Se foram, apagadas.
Não se foram recuperadas.

Não tendes mais as palavras.
Lhes foram, caçadas.
Lhes foram, negadas.
Não lhes foram pronunciadas.

Não temos mais me.
Não temeremos mais se.
Não tememos mais lhes.
Temos mais liberdade poética.

(GeraldoCunha/2017)

Divagação 62

Não me importa sua ausência, mesmo sentida, pois só de saber que você está bem, fico bem também.


(GeraldoCunha/2017)