Sentimental

Tem momentos que estou mais sentimental,
Melancolicamente sentido,
Me esqueço olhando o nada,
Me pego absorto em pensamentos,
Que não consigo acompanhar.
Se apanho o início,
Me perco no meio,
Nunca chego no final
E recomeço olhando o nada.
As palavras se misturam,
Embaralham as ideias…

E só consigo pensar
Que estou melancolicamente
Sentimental olhando o nada.

Tem momentos que estou mais sentimental,
Agarro nas minhas dores,
Sucumbo às dores mundo.
Invado a tristeza que é dos outros,
Me esqueço olhando o nada,
Vejo vultos que me rodeiam,
Semblantes que murmuram
O passado que se foi, sendo esquecido
E me perco, não sei se no início, meio ou fim.
Choro as amarguras alheias,
Por não perceber que são minhas…

E só consigo pensar
Que estou melancolicamente
Sentimental olhando o nada.

(GeraldoCunha/2019)

Reino da imbecilidade


Falas burras,
Raciocínios tolos,
Rasas ponderações,
Desfaçatez dos sentidos,
Instalado o reino da imbecilidade!
As mãos carregam pedras,
Os pés pisam as flores,
Adubo vira poeira,
A razão seca,
Instalado o reino da mediocridade!
A ignorância causa cegueira,
A intolerância sangra,
O rancor pondera,
O diálogo morre.

(GeraldoCunha/2019)

Poema preciso


Poema não precisa ser complicado.
Poema precisa substituir as mãos no toque que falta.

Poema não precisa ser rebuscado.
Poema precisa substituir os braços do abraço que não acolhe.

Poema não precisa ser rimado.
Poema precisa substituir o silêncio da palavra não dita.

Poema não precisa ser preciso.
Poema precisa substituir o concreto por metáforas.

(GeraldoCunha/2019)

Série Poema curto: Sob o fogo cruzado


Para tudo há dois lados
E o meio!
Sob fogo cruzado.
Para tudo há o certo e o errado
E o talvez!
Na corda bamba.
Para tudo há o bem e o mal
E o mais ou menos!
Cruzando o alvo.
Para tudo há o bom e o mau
E o mediano!
Sem pressão.

(GeraldoCunha/2019)

Já vou avisando

Já vou avisando:
Se há incorreção no texto,
A culpa é do autocorretor.
Se não cheguei na hora certa,
Foi o relógio que não despertou.
Se a comida está salgada,
O responsável é o sal, não Eu!
Eu? Mais que lembrança,
Sou esquecimento.
Este sou Eu,
Já vou avisando.

Já vou avisando:
Se esqueci o aniversário,
Chame a atenção do calendário.
Se perdi as chaves,
Grite com a fechadura.
Se o bolo ficou queimado,
Reclame com o forno.
Eu? Mais que atenção,
Sou disperso.
Este sou Eu
E vida é breve para escusas!
Já vou avisando.

(GeraldoCunha/2019)

Pegadas

Poemas são como pegadas,
Vão ficando pelo caminho,
Por onde tantos passam,
Se dispondo em compasso,
Se dissipando com o vento!

Palavras são como o vento,
Invadem os espaços vazios,
Suspiram janelas entreabertas,
Enchem de poeira o papel,
E se transformam em versos!

Poemas são nossas digitais
Estampadas na escrivaninha,
Dando formas às palavras,
Desenhando sentimentos,
Direcionando nossas pegadas!

Palavras são estes traços,
Que feito nossas pegadas,
Unem-se para contar,
Qual poema desenhado,
Excertos de nossas verdades.

(GeraldoCunha/2019)

Série Poema Curto: Gravata borboleta

Quero ser enterrado de gravata borboleta.
Em vida nunca usei.
Quero ela presa em meu pescoço.
Para que não se atreva a voar.

(GeraldoCunha/2019)

Cheiro e sabor / Ciclos da vida

(este poema é absolutamente pessoal – talvez alguém se identifique)

Tem música com sabor.
Arroz com carne moída,
Fins de tarde em família,
Recordações da infância,
Sítio do Picapau Amarelo!

Tem música com cheiro.
Perfume do primeiro amor,
Amizades incondicionais,
Lembranças da adolescência,
Roda de violão e coca-cola!

Tem música com sabor.
Pão de queijo com linguiça,
Café que acabou de ser coado,
Memórias da juventude,
RPM tocando na vitrola!

Tem música com cheiro.
Flor dama da noite,
Jardim da faculdade,
Reminiscência da mais idade.
Pipoca doce de saquinho!

(GeraldoCunha/2019)

S O S


Estamos todos sós
Atrás destes smartphones.
A mesa de bar está vazia,
O violão abandonado,
O músico tocando para a solidão!

Estamos todos nós
Atrás destes smartphones.
Trocando imagens retocadas,
Usando frases idealizadas,
Estáticos e a tela como companhia!

Estamos todos sós
Atrás destes smartphones.
Escravos de nossas angústias,
Abandonados esperando curtição,
Todos implorando atenção!

Estamos todos nós
Atrás destes smartphones.
Escondendo nossas emoções,
Disfarçando nossa solidão,
Esperando por salvação!

(GeraldoCunha/2019)