Série títulos – rede de intrigas


Fulano disse isso de Sicrano. Eu não sou Fulano nem Sicrano. Não digo nada Beltrano. Só digo que Fulano é fofoqueiro. Sicrano não fica para trás. Estes dias dizia de ti. Mas não digo para não criar intrigas. Não sou destes. Beltrano não seja intrigueiro. Se insisto digo apenas que Fulano não vai bem. Mas isto não é falatório. É constatação. Sicrano fala por não ter nada de si a dizer. Diz dos outros. Eu não. Vivo da minha vida Beltrano. Assunto por demais tenho de mim mesmo. Não há tempo para para gastar seja com Beltrano ou Sicrano. E deles dizem que desdizem o que digo. Mesmo dizendo-lhes que não digo nada a não ser de mim.

(GeraldoCunha/2020)

Silêncio dos olhos


Hoje quis não enxergar as palavras,
Fazer com que silenciassem na mente.
Deixando de perturbar meus pensamentos.
Que tudo fosse um apagão.
Preciso descansar das palavras.
Quero um livro que não aceite as letras.
Que seja uma compilação de poemas nunca escritos.
Páginas e páginas em branco,
Passadas uma a uma caladamente.
Mas quando estou para cair
E vozes incessantes me atordoam,
São as palavras que me restauram.
Hoje preciso que fiquem mudas!

(GeraldoCunha/2020)

Série experimentações- ERROS


Escrevi
Errei
Rasurei
Apaguei
Rabisquei
Recomecei

Datilografei
Errei
Encobri
Corrigi
Puxei
Conformei

Digitei
Errei
Deletei
Teclei
Gostei
Imprimi

Vivi
Errei
Consertei
Errei
Aceitei
Vivi

(GeraldoCunha/2020)

O terno


Hoje vesti meu terno tristeza,
Para dignificar minhas lágrimas.
Joguei meu corpo no sofá,
Estático para não me amarrotar.
Estava triste por simples estar
E assim fiquei sem me desalinhar,
Observando os vincos cuidadosamente alinhados.
A tristeza não precisa ser deselegante.
Por descuido não havia lenço no bolso.
Peça antes obrigatória como a alegria,
Ficou esquecida em algum lugar
E as lágrimas não tiveram aonde irem a pousar.
Fizeram-se riacho por secar aos punhos.
Descalços os pés das meias abandonadas,
Como o entusiasmo de outrora,
Que saiu pela porta sem pedir licença e não sabe regresso.
O frio gelo do tempo penetrava
E a barra tipo italiana não segurava.
Dois abotoados botões agarrando a vida.
No profundo da tristeza permanecia,
Mas o que incomodava eram mesmo uns fiapos
Que os dedos indelicados não removiam do termo preto.

(GeraldoCunha/2020)

Série Poema de improviso – Indiferença


Todos cuspindo sentimentalidades
Trancados nos seus mundinhos.
Todos surdos pelo egoísmo
Traem os próprios sentimentos.
Todos clamando por visibilidade
Tapam os olhos para o sofrimento alheio.Todos ingênuos arrogantes
Tentando escapar de suas bolhas.
Todos somos nós implorando atenção
Tiranos no mundo que criamos.
Todos defendendo uma razão
Transfigurada de sensibilidade.
Todos sempre solitários
Tramando uma revolução.

(GeraldoCunha/2020)

Série Poema de Improviso: Fantasia


Fantasiei de vida os meus restos,
Atrás da fantasia me escondi,
Ficando refém das máscaras,
Hoje sou a representação
Dos personagens que visto.

Quem me vê enxerga um traje,
Um folião a brincar com a multidão,
Mas não! o que se vê de mim,
São meus olhos tristes,
Destoando da minha euforia.

(GeraldoCunha/2020)

Divagação 83


Por onde passo querem curar minhas dores medicando, aplicando terapias, indicando mantras, fazendo orações, quando o que é preciso é só um abraço sincero e um ombro amigo.

(GeraldoCunha/2020)

Visita ao passado


Visitar o passado é se decepcionar.
As coisas já não são como eram.
Mudanças pelo abandono ou pela transformação.
O melhor é guardar na memória,
Se aquele lugar ou aquela pessoa representou algo de importância.
Deixa lá! na memória, na lembrança, na … saudade!
Não se volta para ver o castelo de areia.
Ele não estará mais lá,
Pois foi descontruido pelas ondas,
Destruído pelos pés do homem ou
Invadido por outras mãos e transformado.

(GeraldoCunha/2020)

Série Poema Curto – Passos


Os meses passam…
E eu lentamente.
Lenta a mente!
E os passos?
Passo a passo…
Lentos nos dias.
E os dias?
Largos nos passos!
Os dias passam…
E eu não passo.
Preso na horas.
Conto os segundos…
Segundos passam.
A passos lentos!

(GeraldoCunha/2020)

Série Open- Torre de Babel


não falamos mais a mesma língua, Sem uma conexão na Torre de Babel. estranhos conhecidos de outrora, Perdidos em palavras dissonantes. duas solidões não conversam. lábios que se movem Para ouvidos surdos pelos próprios pensamentos. olhares que se cruzam e Não se veem. quem somos nesta relação. não sabemos mais E culpamos o tempo. sempre o tempo a desculpar E o tempo é linear. li esta frase em algum livro E compreendi. fragmentadas são as relações, Pelo desgaste que provocamos Pela ausência. que Não é distância física É abandono do sentimento. Desprezo pelo Sentir um do outro E as palavras vão se ressignificando Sem compreensão, Quando nos acomodamos. tudo é tão simples, Mas queríamos alcançar o céu E foi nossa ambição. hoje não sabemos quem somos.

(GeraldoCunha/2020)