Volúpia

Volúpia

Leve
A xícara na boca
Escorrega os lábios
O aquecido da língua
esquecido
O tempo de outrora
Seguro na alça
Firme no calor
exalado
Pela fumaça
Da canela
Em pó
O aroma
Vertigem da memória
relampejo
Ao repouso da louça
O beijo marcado
De onde deslisa
a lágrima
Alcança o pires
Seca ao dedo
Que vai à boca
tênue
Repouso lento
Do nascer do dia
Ressaca da noite
volúpia

(GeraldoCunha/2020)

Série cotidiano – Beija-flor

Tem um beija-flor na varanda
Todos os dias vem me visitar
Pelas manhãs
No mesmo horário
Entre dez e onze horas
Chego na bancada
E logo vem
Um voo de aproximação
Uma paradinha no ar
Para logo pousar sempre no mesmo galho seco
Por segundos
E voa
O amor vai
Embora

(GeraldoCunha/2020)

Uma saudade

Saudade da meninice
Do riso solto
Da tristeza interrompida no gracejo
Do sem maldade
Do descompromisso espreguiçado
Da pureza do gostar
Da inocência em querer crescer

Saudade é
Cansaço de adulto que bate forte
No turbilhão dos sentimentos gota que se transforma em cachoeira
O sorriso que vai sendo deixado nas idades por não ser cultivado

GeraldoCunha/2020

Divagação 85

Você percebe que o mundo não está bem quando o terapeuta vira seu paciente.

(GeraldoCunha/2020)