Um pouco de poesia, um tanto de poemas, outros de ilustrações, sem esquecer da fotografia e muito mais de arte. Produção de GeraldoCunha autor da obra Improváveis – Livro de Poemas, edição 2021. Contato pelo instagram @divagacoes.geraldocunha
afagos afetuosos na barriga que cresce rompido o cordão umbilical lágrimas esquecidas das dores no primeiro beijo melado
risos soltos ou severos nos acalantos diários que sobrevoam a noite ninam choros insistentes dengosos dos carinhos
cafuné na criança aproveitada do colo de mãe que renuncia aos cansaços da lida entregando-se ao ócio maternal advertindo [com iras disfarçadas] as bobas traquinagens
braços que acolhem a adolescência rebelde recolhendo as próprias angústias curando dores alheias lambendo a cria tantas arredias
amor inconteste que acompanha adulta vida de quem vê eterna criançola fingindo não carregar tristezas suas doando-se por inteira incondicionalmente
Quero voltar para o útero de minha mãe. De onde não queria sair. Fui expulso! Não tive escolha, o mundo se abriu. E eu curioso quis ver como era. Achei tudo hipnotizante. Não entendi bem o que vi. Não compreendi o que as pessoas diziam. E quis voltar para o útero de minha mãe! Mas me foi oferecido só os peitos. Foi o que bastou para eu querer ficar. No colo me senti tal-qualmente protegido. Até o momento que ouvi: vai pra vida! Criei coragem E eu fui! Do que venho vivendo Muito desgostei, Outros tantos me foi é indiferente, Um quanto de tudo e um pouco mais, gostei. Mesmo assim, hoje quero voltar para o útero de minha mãe.
Que todas as mães em todo o universo sejam abençoadas no seu dia especial … que são todos os dias.
Hoje acordei triste, Manhã daquelas melancólicas. Pensando nas despedidas E as mudanças decorrentes.
Envelhecer e ver as pessoas morrendo de velhice entristece. É o passado que vai sendo desfeito, Somos nós que vamos deixando de ser futuro, presente e passamos a ser o passado.
Tem manhãs destes desatinos Em que a nostalgia sacoleja a cabeça. E eu me pergunto onde estão todos? Hoje estão nas fotografias esquecidas.
Do colorido que a velhice deveria, Vejo em preto e branco… fantasmas. Em câmara lenta envoltos na neblina perambulam. Circulando entre as cores que já não importam.
Nos olhos tristes a felicidade roubada. Na boca o sorriso abandonado. No silêncio a certeza de que o mundo está ficando surdo. GeraldoCunha/2021
Tem um beija-flor na varanda Todos os dias vem me visitar Pelas manhãs No mesmo horário Entre dez e onze horas Chego na bancada E logo vem Um voo de aproximação Uma paradinha no ar Para logo pousar sempre no mesmo galho seco Por segundos E voa O amor vai Embora
Dançam os cabelos ao vento,
Escondendo o rosto que esconde o sorriso.
A valsa dos ventos e versos.
As folhas roçando os galhos em sinfonia.
Um poema que se vai construindo.
Dançam as folhas secas ao vento,
Flutuam meigas pelo ar.
Tocam a pele leve …. leve… leve,
Prendem nos cabelos que enfeitam,
Como as palavras que se abraçam em poesia.
Dançam os pássaros, enquanto assobiam a melodia.
Valsam entre os cabelos que voam,
Cobrem o rosto que já não esconde o sorriso.
Passos que flutuam, asas que valsam.
Braços que se enlaçam em versos.
(Um delicioso desafio de escrita proposto pelo poeta mineiro Estevan, do blog Sabedoria do Amor, https://estevamweb.wordpress.com/, um amigo escritor, de elevada cultura e conhecimento, que sempre com muito carinho prestigia a minha escrita simples e que transforma em poesias belíssimas suas experiências e as questões sociais atuais, nos chamando à reflexão)
A partir do poema Deixe-se levar” foi-se nascendo este poema “Então flutue” e a poesia Nos passos e braços da poesia deste ilustre poeta mineiro.
São só agradecimentos…
Poderia ser uma pergunta.
Poderia ser uma afirmação.
Poderia ser uma interjeição.
Mas é só uma frase sem futuro,
Pois quando perceber foi tarde demais…
Passou!
(GeraldoCunha/2020)
Estive escondido pela vida,
Que quando ressurgi assustei
Aos outros,
A mim.
Quando olhei para trás
E a porta se fechou,
Não tinha como voltar,
Como me esconder.
E já não era o que eu queria.
A cada passo uma luz se acende,
Tremula,
Pisca fraca e vai se fortalecendo.
Sigo, desafiando os que dizem:
– não pode!
– não é capaz!
Viajar é se permitir.
Estar aberto para novas experiências.
Voe sem amarras.
Esqueça as malas.
Você sem asas.
Rasgue as roupas e saia.
De saia dance em ondas.
Veleja o ar.
Embarque no vento.
Rasgue o bilhete e ande.
Sinta o cheiro da terra com os pés descalços.
Peça carona e deixe ir.
Mude a rota e conheça o mar.
Não se vive só de cachoeiras.
Não se sobrevive só de asfalto.
Recolha a chuva e beba.
Com os restos que escorrem se lave.
Seque ao sol.
Ou revire na areia da praia e tome banho de mar.
Tempere a pele.
Salgue os cabelos.
Agarre a crina do cavalo pelo pescoço ou cauda.
Cavalgue o tempo.
Recoste sob a sombra de uma paineira, sobre a grama molhada.
Cubra-se com suas flores.
Sonhe.
Sonhar é viajar.
Conhecer o outro lado por dentro.
O inconsciente.
Tudo que não disse com palavras,
Mas deixou escapar pelo olhar.
O espaço entre as minhas mãos e os seus cabelos.
A fumaça que escapa da xícara, atravessa as narinas e dissipa.
As letras escapando entre os dedos.
A folha que se desprende do galho e pousa suave sobre a página a virar.
A última frase da música ou talvez a primeira, nunca o refrão.
O atrevimento inesperado no memento tão esperado.
O soco, já disseram isto também. O soco!
O risco na parede, direcionado para a janela.
Janelas são poemas prontos, que se renovam todos os dias.
Tudo que pensei no segundo seguinte àquele olhar.
Nenhuma das opções acima, ou todas, exceto uma.
Os infelizes vivem. Não percebem a felicidade que passa. Enquanto isso gritam e choram. Buscam uma saída sem saberem o que há do outro lado. Só querem fugir. Só querem retornar. São felizes não sabem. Acreditam que a felicidade está lá fora. Insistem na felicidade que ficou no passado. Tentam uma saída para o escape das mazelas. Sempre voltam ao começo. Vivem e não percebem a aventura. Têm medo da felicidade. Do presente e do futuro. Acreditam que ao alcançarem a felicidade serão plenitude. E morrerão tentando ou serão castigados. Não enxergam as recompensas. Seguem infelizes os viventes. Enquanto a felicidade lhes sorri. Sorri para o vazio dos que a buscam. Os infelizes acreditam que a felicidade é o amanhã. Pobres coitados.
Não queria estar só.
Timidamente me recolhia,
escondendo atrás das cortinas,
espreitando as frestas das janelas.
Na iminência da proximidade,
sorrateiramente me entranhava
entre as cobertas e ficava ali,
atenciosamente,
prendendo a respiração ofegante,
esperando retornar ao conforto da minha solidão.
Novamente sozinho pensava ter
recuperado minha liberdade,
antes ameaçada,
mas logo percebia que o estar
sozinho não era liberdade
e sim solidão.
E só eu não queria estar.
Impulsivamente eu emergia
daquelas cobertas
que serviam de refúgio e,
ainda ofegante,
abria as cortinas atrás das quais me escondia,
escancarava as janelas,
deixando o ar e sol invadir aquele quarto
e, loucamente,
pedia para você voltar
pela porta entreaberta.
Sou feito de ciclos!
Entre revoltas e conformação,
Vivo!
E disto retiro o que se tem de melhor.
Nos ciclos de revoltas,
Esbravejo o mundo,
Insisto e desisto,
Revejo conceitos,
Expurgo rancores,
Desintoxico!
Nos ciclos de conformação,
Reciclo ideias,
Acomodo pensamentos,
Resignado à ordem,
Reestruturo!
Nos intervalos,
Vivo!
Assim sou constituído,
Ora desconstrução,
Ora reconstrução,
Ser em evolução.
Um apanhado de erros,
Um bocado de acertos,
Vertigem!
Como são lindas as histórias de amizade.
Carregadas de sentimentos.
Sufocadas de abraços.
Enlaçadas pela cumplicidade.
Risos, choro, lágrimas,
Choros, riso, lágrimas,
Acúmulos de amores!
Despretensiosos encontros de almas.
Ausência sentida,
Presença exigida,
Distância compreendida!
Inusitadas relações de opostos que se conectam.
Atropelo de erros e acertos
E entre idas e vindas,
A permanência …
Memória das tristezas e alegrias
Avalanche de saudade!
no meu coração
terá sempre um cantinho para você,
na minha casa
sempre haverá uma xícara de café quentinho,
no meu corpo
reservarei um ombro para secar as lágrimas
no meu pensamento
buscarei as melhores lembranças
no meu abraço
guardarei as alegrias e expulsarei as tristezas
nos meus gestos
desenharei seus traços
nas minhas palavras
ouvirá afeto com sinceridade
no meu convite
a resposta é a reciprocidade