Série leituras & percepções – Tutameia (terceiras estórias) João Guimarães Rosa


“Conte-se que uma vez”…(Estória nº 3), “Saudade maior eram: a Barra, o rio, o lugar, a gente” (Barra da Vaca).
Arenoso solo o das palavras,
de encantamento,
desbravadores…
Serenam os olhos.
Hilaridade,
senso de humor. jocosidade.
“Quero o bom-bocado que não fiz,, quero gente sensível”. (Esses Lopes)
“O mundo se repete mal é porque há um imperceptível avanço” (Lá, mas campinas)
“A vida são dívidas.A vida são coisas muito compridas.” (Melim-Meloso)
“0 mundo do rio não é o mundo da ponte” (Orientação)

A sensibilidade sertaneja,
que se protege com espingarda,
o puro encanto com as feias moças, que são é belas: “Tanto vai a nada flor, que um dia se despetala” (Arroio-das-antas).
Escorre qual sangue à faca,
o desajeitoso amor,
entre pedregulhos e rochedos.
A sol à pique. Memórias: “A gente se esquece – e as coisas lembram-se da gente” (Arroio-das-antas).

Dos pisos do comum,
nascidos do Urucúia, Abaeté, Rio Verde Pequeno, Santa-Rita, Curvello …
Enveredados,
no Sertão. Sertões. Ser tão.
Humana terra: “De novo o Mucual”(Droenha).
“Até aquele dia ele tinha sido imortal; perdeu-se as cascas” (Estória nº 3)

O Sertanejo desri da felicidade dessa gente:
“Felicidade se acha é só em horinhas de descuido …” (Barra da Vaca)
“O quanto, o silêncio” (intruge-se)

Ler O Rosa, em toda sua complexidade, é ao mesmo tempo um desafio e um deleite.
“Todo fim é exato. Só ficaram as flores” ((Reminisção)
“A vida como não a temos”. (Quadrinho de estória)
“A noite, o tempo, o mundo, rodam com precisão legítima de aparelho”
(Quadrinho de estória)
“Idade é a qualidade” (Esses Lopes)
“Meu gosto agora é ser feliz, em uso, no sofrer e no regalo ” (Esses Lopes)
“Para trás, o que passei, foi arremendando e esquecendo. Ainda achei o fundo do meu coração.” (Esses Lopes)

“A cada sete batidas um coração discorda” (Estorinha)
“Ixe, coragem também carece de ter prática” (Hiato)

“0 amor é breve ou longo, como a arte e a vida” (orientação)
“A gente quer mas não consegue furtar no peso da vida” (Rebimba, o bom)
“0 mal não tem miolo” (Rebimba, o bom)

Penso que O Guimarães fica de lá do seu Sertão, rindo destes Sertanejos tentando decifrar suas prosas poéticas. E ele que só queria uma boa prosa.

(GeraldoCunha/2022)

Série o poeta- jardineiro

Improváveis – Livro de poemas (GeraldoCunha)

Uma ótima leitura para começar o ano de 2022

Poesia leve, falando sobre o cotidiano, sentimentos, vivências.

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Venham compartilhar desta experiência comigo.

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Ou caso prefira…mande um direct pelo Instagram @divagacoes.geraldocunha (aqui com possibilidade de ir autografado)

GeraldoCunha/2021

Série cotidianos- invenção das coisas

Gosto de nomear
Dar nomes aos regalos
Meu passarinho de madeira não é mais de madeira é o Sebastião
O pássaro de origami não é mais Tsuru ….. é Miyake
e nisto não se tem nenhum desrespeito
As tartarugas moldadas ao barro pelas mãos da criança
à beira da estrada
Lembram um dia na Serra do Cipó,
Vestiram-se de Araci, Arlete e Matilda
E aquela criança deve ser hoje um adulto… um artista… espero.

Os São Franciscos que vão chegando não são só imagens devoção
simbolizam paz esperança e amizade
Ser lembrado acarinhado
Como os pássaros que os circundam
logo que chegam vão pegando intimidades de Chicos



O beija-flor, aquele do poema que vem na varanda, que se fez cotidiano, nas visitas pelas manhãs e agora às tardes
(Certo que é visita de hospital)
é O beija-flor
pelas carnes
os ossos
as penas …
e o bico que bebe da água que lhe sirvo
e não me pede mais nada



Não tenho livros, tenho Pessoas, Clarices, Drumons, Gabos, Saramagos …. e uma lista desalfabéticas de outros tantos seus vizinhos que se juntam aos Mias , Conceições, Valteres , Quintanas e fazem festa ao som de Abelhas Rainhas Rouxinóis Sabiás que pousam em guardanapos de papel
Só falta objetivar pessoas, não todas, algumas, aquelas que se desumanizaram sem volta.

TextoEfotografia

GeraldoCunha

Série livros que li – Crônica de uma morte anunciada

Atravessa os instantes das horas

à espera da morte

“Augúrio aziago”

Desatento ao prenúncio

No disse me disse dos testemunhos

O desenrolar dos acontecidos

Como cama vazia

Aconchego de tristeza

Perde-se a cabeça

Entrega-se à primeira paixão

Desonra das carnes

Vingada no arrebatar de facas

No que dizem ser defesa da honra

Oculta a covardia

do olho por olho

do dente por dente

Sem notas de arrependimento

Vida que se despede

Presságio

“nunca houve morte mais anunciada”, disse Gabo

Enquanto o luto veste-se de vermelho

Morre-se sem entender a morte

De facas que escorrem sangue inocente

📖

Obra de Gabriel Garcia Márquez

Na percepção de GeraldoCunha

Os destaques em “ ” são da obra

Prefácio: “O que explica a tragédia que se abateu sobre o protagonista de Crônica de uma morte anunciada?”

Crônica de um sujeito sem rumo (vale a pena publicar de novo)


Fazia planos todas as noites, esperando começar a realizá-los logo que o dia amanhecesse. Mas o sono não vinha, se vinha era por pouco tempo, sobrava tempo para mais reflexões e mais planos eram idealizados, diante da percepção de que muito ainda podia ser feito para alterar por completo aquela vida que estava ali, por tanto anos, parada, no mesmo lugar, sabotando qualquer tentativa de fazer diferente.
Amanheceu, agora sonolento pela noite mal dormida, já não se lembra de todos os planos traçados, os poucos que se recorda pensa que podem ficar para outro dia, o sono tardio convida a ficar na cama.
Desperto, já tarde do dia, percebe que nada mudou, acordou, tomou café, ouviu a música de sempre, comeu a refeição e deitou novamente, depois de tentativas de sair daquela rotina. Já não importavam os planos traçados na noite anterior. Dentre os poucos de que ainda se recorda, para cada um, uma desculpa para começar a colocá-los em prática mais tarde.
Com a tarde indo embora e a noite querendo se mostrar, percebe-se sem rumo, nada fez, permitiu que a vida continuasse exatamente como está. Fez um lanche, comeu uma fruta e tomou um gole de café. Em frente à televisão hipnotizado e sem esperança, fazendo-se acreditar que os planos não eram para hoje e que poderiam ser colocados em prática amanhã, quando aquelas desculpas já não fizessem mais sentido e outras não pudessem ser inventadas, espera por nada, até a hora de tomar um copo de leite e deitar novamente.
A noite chegou, deitado, é hora de refazer os planos, pensar nos motivos e desculpas que impediram fossem realizados e ter esperança de que estes novos planos lhe darão um rumo diferente, mas o sono não vem.
(GeraldoCunha/2016) texto original, sem alterações ou correções.

Série experimentações- Deixe-se levar


Vamos, é a nossa música!
Nós não temos uma música.
Agora temos.
Não sei dançar.
Siga meus pés.
E se eu pisar nos seus?
Eu te carrego pelo salão.
(Um respiro)
Deixe-se levar aos rodopios.
Posso cair.
Eu te seguro no segundo antes do chão.
Mas…
(O corpos se entrelaçam mais forte)
Não tenha medo, entregue-se.
Não tenho.
(Sussurros ao ouvido)
Então feche os olhos.
Já estavam fechados.
Os meus também.
(Suspiros)
(Rodopios)
(Mais rodopios)
(Pausa)
A música parou de tocar.
Mesmo? Não percebi.
Faz mais de uma hora.
Não escutei o tempo parar.
Não abra os olhos.
Deixe-se levar.

(GeraldoCunha/2020)

Recomendo a leitura do poema Nos passos e braços da poesia do amigo poeta mineiro Estevan MATIAZZ do blog Sabedoria do Amor, que surgiu de um delicioso desafio poético.

Aves


Desenho pássaros no papel
Que de asas abertas não voam.
Na rua, observo pela janela, os pombos.
Passeiam na rua deserta, alimentam-se.
Voam de um lado para o outro.
Voo baixo, displicente.
Senhores das ruas.

E os pássaros aqui dentro não voam!
São mais coloridos,
Mas não voam!
Presos à folha branca,
Não percebem o céu,
Sem as cores do azul.

E lá fora, no céu, rajada de avião.
Corta as nuvens decepando-as,
Um rastro que se vai deixando,
Aos poucos encoberto e some!
Os pássaros sobre a mesa,
Dispostos no papel não voam.

Transformo em avião o papel.
As aves se escondem sob as dobraduras.
São só cores que se misturam nas asas.
Seguro pelos dedos voam pela janela,
Alcançam o céu e gira em círculos
E os pombos, lá fora, voam para longe!

(GeraldoCunha/2020)

Série Visitando 2016 (tudo começou assim…) Crônicas de um sujeito sem rumo

Fazia planos todas as noites, esperando começar a realizá-los logo que o dia amanhecesse.Mas o sono não vinha, se vinha era por pouco tempo, sobrava tempo para mais reflexões.

Mais planos eram idealizados, diante da percepção de que muito ainda podia ser feito para alterar por completo aquela vida que estava ali, por tanto anos, parada, no mesmo lugar, sabotando qualquer tentativa de fazer diferente.

Amanheceu. Agora sonolento pela noite mal dormida, já não se lembra de todos os planos traçados, os poucos que se recorda pensa que podem ficar para outro dia, o sono tardio convida a ficar na cama.

Desperto, já tarde do dia, percebe que nada mudou, acordou, tomou café, ouviu a música de sempre, comeu a refeição e deitou novamente, depois de tentativas de sair daquela rotina.

Já não importavam os planos traçados na noite anterior. Dentre os poucos de que ainda se recorda, para cada um, uma desculpa para começar a colocá-los em prática mais tarde.

Com a tarde indo embora e a noite querendo se mostrar, percebe-se sem rumo. Nada fez, permitiu que a vida continuasse exatamente como está. Fez um lanche, comeu uma fruta e tomou um gole de café.

Em frente à televisão hipnotizado e sem esperança, fazendo-se acreditar que os planos não eram para hoje e que poderiam ser colocados em prática amanhã, quando aquelas desculpas já não fizessem mais sentido e outras não pudessem ser inventadas, espera por nada, até a hora de tomar um copo de leite e deitar novamente.

Anoiteceu, deitado, é hora de refazer os planos, pensar nos motivos e desculpas que impediram fossem realizados e ter esperança de que estes novos planos lhe darão um rumo diferente, mas o sono não vem.

(Geraldocunha/2016)

Flash Back

(série: Ensaios/experimentações – poema produzido na Oficina O Cinema da Escrita)
•••
A câmara no meio da rua registra. De um lado, botas brancas em foco. Passos nervosos. Dividida a tela, do outro lado, óculos escuros. Em movimentos tensos. O plano é fechado. O sol teima em brilhar. Caminham na mesma direção. De lados opostos do passeio. Cruzam a câmara que se desloca rapidamente. À frente o letreiro anuncia. Love Store – Uma História de amor. Ao fundo já se houve ao piano “theme from love story”. Do lado de fora a trilha sonora é outra. Som dos carros, buzinas, apitos, a criança que chora. Bilhete entregue ao olhar desatento do lanterninha. Cabeça baixa. Agora em plano aberto caminha. Por detrás a cortina vermelha que se fecha. À frente a câmara vai em direção às cadeiras vazias. Na penumbra só uma ocupada. Desfaz-se do lenço que protegia. Senta ao lado, se olham discretamente. Corte para as mãos que se tocam. Alianças esquecidas. Voltam ao passado. A câmara passeia pelas paredes manchadas e do fundo se projeta para a tela. Os protagonistas se beijam. O filme já vai terminar.

(GeraldoCunha/2019)

Historieta – Um vulto à espreita a me observar

(Gostou? veja também: Lembranças)

I – O porta-retratos
O que quero dizer é muito importante. Entre fotos espalhadas pelo chão vi, em uma especificamente, sua imagem refletida. Lá estava você, em um porta-retratos bem ao fundo, sobre uma mesinha de madeira envelhecida, ao lado de uma vitrola antiga. Mas era apenas um reflexo. Sem entender, afoito, à sua procura, não me contive, vasculhei, uma a uma, cada fotografia. Separei as que contavam histórias passadas naquela sala, em todas sua imagem aparecia refletida, agora não apenas em um, mas em todos os vidros dos porta-retratos espalhados naquele espaço.

II – A vitrola
O que quero dizer é muito importante. Não tinha percebido quantos porta-retratos havia naquela sala, nem que sobre a mesinha repousava uma vitrola antiga. Não lembrava que gostava de música e que sempre ao chegar em casa, cansado do trabalho, tirava os sapatos, escolhia um disco e me jogava no sofá. Naquele momento, estranhamente sentindo a sua presença, era só aconchego. Entre tantas fotografias reviradas ao chão, antes esquecidas nas gavetas e em velhos álbuns de fotografia, só agora percebo nelas o seu reflexo, esteve aqui todo o tempo e eu podia sentir, apenas não entendia.

III – A mesinha de madeira envelhecida
O que quero dizer é muito importante. Acreditava estar só, mas ainda assim sentia sua presença, procurava sem encontrar. Voltando minha atenção para aquela mesinha de madeira envelhecida, veio a lembrança de momentos de felicidade. Deixada na casa pelos antigos moradores, aquela mesinha devia conhecer muitas histórias passadas naquela sala. Serviu de apoio para muitos porta-retratos. Naquele dia eu estava só como de costume, mas sentia sua presença muito forte, cheguei em casa, retirei os sapatos deixando-os jogados, joguei as chaves sobre a mesa sem prestar muita atenção nos meus gestos. Liguei a vitrola, sem perceber qual o disco estava tocando. Lembro que segurei o porta-retratos por um instante, sem entender a razão daquele gesto. Olhei, mas nada vi além da paisagem por trás daqueles rostos esbanjando uma falsa felicidade. Ao voltar o porta-retratos para a mesinha de madeira envelhecida, estranhamente senti a sua presença, mas não o vi.

IV – A sala
O que quero dizer é muito importante. Dentre todos os porta-retratos espalhados pela sala, aquele em especial chamava a minha atenção, pois estava em frente ao sofá. Enquanto escutava a música tocando na vitrola, aquela melodia relaxante, na penumbra eu observava os detalhes daquela sala, não eram muitos, poucos eram os móveis, a parede era sem cor, os quadros não tinham expressão, faltava algo. Tantos porta-retratos espalhados não ajudavam a dar brilho e sentido àquele espaço. No meio de todo aquele cenário desolador, bastava o sofá, a vitrola e o porta-retratos à minha frente para sentir a sua presença e, naquele instante, por alguns minutos me transportava para um lugar que era só aconchego e de onde não queria mais voltar. 
V – Sua imagem
O que quero dizer é muito importante. Olhando todas as fotografias espalhadas pelo chão, percebi que todo este tempo me alimentei do seu reflexo. Aquela música que sempre tocava na vitrola antiga, que ficava repousada na mesinha de madeira envelhecida era para você. Agora percebo e posso entender aquele sentimento de felicidade. Fazíamos companhia um ao outro. Tímido, era um vulto à espreita a me observar e isto sempre foi muito importante e ainda é.
(GeraldoCunha/2017)

Crônica de um sujeito sem rumo – insônia

Fazia planos todas as noites, esperando começar a realizá-los logo que o dia amanhecesse.Mas o sono não vinha, se vinha era por pouco tempo, sobrava tempo para mais reflexões.

Mais planos eram idealizados, diante da percepção de que muito ainda podia ser feito para alterar por completo aquela vida que estava ali, por tanto anos, parada, no mesmo lugar, sabotando qualquer tentativa de fazer diferente.

Amanheceu. Agora sonolento pela noite mal dormida, já não se lembra de todos os planos traçados, os poucos que se recorda pensa que podem ficar para outro dia, o sono tardio convida a ficar na cama.

Desperto, já tarde do dia, percebe que nada mudou, acordou, tomou café, ouviu a música de sempre, comeu a refeição e deitou novamente, depois de tentativas de sair daquela rotina.

Já não importavam os planos traçados na noite anterior. Dentre os poucos de que ainda se recorda, para cada um, uma desculpa para começar a colocá-los em prática mais tarde.

Com a tarde indo embora e a noite querendo se mostrar, percebe-se sem rumo. Nada fez, permitiu que a vida continuasse exatamente como está. Fez um lanche, comeu uma fruta e tomou um gole de café.

Em frente à televisão hipnotizado e sem esperança, fazendo-se acreditar que os planos não eram para hoje e que poderiam ser colocados em prática amanhã, quando aquelas desculpas já não fizessem mais sentido e outras não pudessem ser inventadas, espera por nada, até a hora de tomar um copo de leite e deitar novamente.

Anoiteceu, deitado, é hora de refazer os planos, pensar nos motivos e desculpas que impediram fossem realizados e ter esperança de que estes novos planos lhe darão um rumo diferente, mas o sono não vem.

(Geraldocunha/2017r)

Novela da Vida Real – Uma ficção …FIM (que poderá  ser um começo)

CAPÍTULO FINAL

Dizendo-se já com saudades, foram dormir, …apaixonados… . Entre um “oi”, um “olá”, um “estou com saudades” acompanhado de um “eu também” as semanas foram passando. Padaria, semáforo, coletivo, vitrine, biblioteca e o rotineiro “boa noite”. Confortáveis naquela relação, chegou um momento em que não conversavam mais, naquele vazio tiveram tempo de, ao atravessarem a rua, trocarem olhares discretos e tímidos sorrisos, mais foi só, sempre seguiam cada um seu rumo. Desesperançosos e desacreditados perceberam que, apagadas as conversas, não restavam lembranças, sem rostos definidos, aquele romance parece nunca ter existido, sobrou tempo para o amor real, que poderia estar naquela padaria ou mesmo no coletivo ou quem sabe entre as prateleiras da biblioteca, à distância apenas de um “oi”.

***F I M***

(Amigos, esta crônica foi uma pequena experiência, uma ousadia para, no futuro, quem sabe, desenvolver textos mais aprofundados, assim, sua opinião é muito importante para mim, obrigado a todos que acompanharam a trajetória destas duas pessoas que, não se enganem, acreditam no amor)

Novela da Vida Real – Uma ficção continua…

CAPÍTULO 7
Continuavam apaixonados, mas, no conforto desta relação, as conversas foram se espaçando. Já não iam todos os dias à biblioteca, por isso combinavam de se falar no dia seguinte. Já não nutriam aquela ansiedade e expectativa do encontro, sabia que estariam ali, à distância apenas de um teclado, o amor podia esperar. Já sabiam que estavam enamorados e que aquela paixão se transformou em um relacionamento estável e confortável que poderia ceder espaço para outros compromissos. O já foi lhes afastando, já e já e já era! Em um dia como outro qualquer, acordaram, arrumaram o material nas mochilas, passaram na padaria, o pão na chapa, para surpresa do atendente, foi substituído por pão de queijo, acompanhado de uma xícara de café puro. Sentaram-se, olharam-se, mas não se viram, o pensamento estava longe. Como que por obrigação, se conectaram e trocaram um “oi”, seguido de um “até daqui a pouco, estamos atrasados”, acompanhado de mútua concordância e um #eutiamo.O dia passou, à noite chegou e, como combinado, conversaram sobre o dia e sua rotina. Dizendo-se já com saudades, foram dormir, … apaixonados…

CAPÍTULO FINAL

Dizendo-se já com saudades, foram dormir, …apaixonados…

Novela da Vida Real – Uma ficção continua…

CAPÍTULO 6

Estavam apaixonados e iriam se conectar, chegaram ao restaurante afastados apenas por alguns pouco minutos, distraídos serviram-se como de sempre, não havia tempo para novidades gastronômicas, a expectativa era o encontro marcado, seria o primeiro almoço juntos. O restaurante era pequeno, aconchegante, de decoração acolhedora, daqueles que convidam o amor a sentar à mesa. No entanto, a seu modo, escolheram mesas próximas e sentaram-se, mas não trocaram olhares, o pensamento estava no encontro virtual. Logo colocaram os pratos de lado e se reconectaram, não havia pressa, não estavam com fome. Assunto nunca faltava e sem perceberem o tempo marcou presença, era preciso seguir com suas vidas. A tarde veio, acompanhada ao longe pela noite que logo lhe alcançou. Era momento de voltarem para suas casas, desde o almoço não se falavam e a distância era angustiante, tantos assuntos não foram concluídos, quantos outros surgiam em suas mentes e motivavam sorrisos solitários. Era preciso observar o semáforo ao atravessarem a rua e também o número do ônibus que os levariam às suas casas, tudo o mais não tinha importância. Estavam lado a lado, tão apaixonados que não se preocuparam com detalhes pessoais, nem mesmo pensaram em marcar um encontro real. Os dias foram passando, as noites chegavam e iam, já eram virtualmente íntimos, suas vidas estavam entrelaçadas. Foi o que pensaram, era o que bastava e os satisfazia. Continuavam apaixonados, mas, no conforto desta relação, as conversas foram se espaçando.

CAPÍTULO 7

Continuavam apaixonados, mas, no conforto desta relação, as conversas foram se espaçando…

Novela da Vida Real – uma ficção continua…

CAPÍTULO 5

Estavam apaixonados e havia chegado o ponto de descida. A biblioteca era bem próxima, poucos passos a distanciava do ponto do ônibus, além de uma livraria que sempre chamava a atenção pela sua vitrine. Naquele dia estava bastante colorida e diversificada, caixas de lápis de colorir, cadernos com capas divertidas, objetos de decoração charmosos. Mas o tempo corria e o objetivo era chegar à biblioteca transpondo as barreiras impostas pelo mercado de consumo. Cumprimentaram a bibliotecária, sempre educada mas de cara amarrada, talvez por ainda não ter se apaixonado ou já ter vivido uma grande decepção, foram para a mesa coletiva, com várias cadeiras dispostas, mas duas sempre eram as escolhidas, uma de frente para a outra, próximas das tomadas e onde o sinal de internet era mais potente, sentaram-se e não se olharam. Muitas lições para fazer naquele dia, matérias que precisavam ser revisadas, um livro que tinha de ser concluído, pesquisas para a escola, mas para tudo tinha seu tempo, antes tinham que se conectar, o que fizeram quase ao mesmo tempo, diferença de alguns segundos apenas, que pareciam eternos. Novamente se encontraram e agora com a certeza de que sempre estariam juntos. Falaram sobre as tarefas daquela manhã e da dificuldade em aprender algumas matérias, mas se ajudaram e, dizendo-se cansados, fizeram uma pausa. Havia tempo para uma conversa mais descontraída, antes de retomarem os estudos, mas não muito, pois a hora do almoço se aproximava. Ficaram de se falar na hora da refeição e voltaram aos estudos. Não estavam com fome naquele dia, mas tinham um encontro no restaurante e não podiam faltar, estavam apaixonados e iriam se conectar.

CAPÍTULO 6

Estavam apaixonados e iriam se conectar…

Novela da Vida Real – uma ficção continua…

 … Estavam conectados e apaixonados.
CAPÍTULO 4

Estavam conectados e apaixonados. O coletivo chegou, neste dia não teve atraso, precisaram correr. Educadamente subiram no ônibus já lotado. Os únicos lugares, um de frente um para o outro. Sentaram-se olhando para o nada, aproveitaram que o plano de franquia dos celulares tinha acabado de ser renovado e retomaram o encontro. Terminaram um dos assuntos começado no café e emendaram a outro, o tempo era curto, até o Centro não demoraria mais que quinze minutos. Cada minuto estava sendo muito bem aproveitado, nem percebiam que as pessoas que esbarravam ao descer do ônibus lotado, afoitas para chegarem rápido ao trabalho ou pegar o metrô talvez. A cada ponto desciam algumas e outras tantas, afobadas, entravam, procurando assento, mas aqueles dois lugares, de frente um para o outro, estavam ocupados por dois estranhos, ligados ao mundo apenas por seus celulares. Com fones de ouvido, discutiram sobre as músicas que estavam ouvindo naquele momento, tinham muito em comum, gostavam do mesmo estilo musical, mas a música que ouviam não era a mesma, não podia haver tanta coincidência. Trocaram ideia sobre os cantores e bandas, nem todos eram do apreço de ambos, mas se respeitaram, pacientemente defenderam seu ponto de vista e, a contragosto, concordaram, pois estavam apaixonados e havia chegado o ponto de descida.

CAPÍTULO 5

Estavam apaixonados e havia chegado o ponto de descida….

Novela da Vida Real – uma ficção continua….

As únicas certezas naquela noite era que se conheceram na internet e estavam apaixonados.
CAPÍTULO 3

As únicas certezas naquela noite era que se conheceram na internet e estavam apaixonados. E a manhã trouxe apenas a confirmação daquela paixão inesperada. Escolheram iniciar a conversa no café da manhã, pois naquela padaria parecia não ter ninguém mais interessante. Chegaram quase ao mesmo tempo, escolheram seus lugares de sempre, duas banquetas dispostas pelo balcão, se procuraram, na rede. Apreensivos, pensaram que tudo tinha sido uma ilusão é que naquela manhã já nem se lembravam da conversa da noite anterior. Mas não foi o que aconteceu. Tinha sido tão bom que valia o risco da confirmação de uma desilusão, afinal foram tantas ao longo da vida. Bastou um toque e estavam conectados, nem perceberam as xícaras aquecidas colocadas sobre a mesa, dois pingados, um com mais leite e o outro menos café, não podia faltar o pão na chapa. O tempo era curto, a conversa tinha de ser rápida, pois não podiam perder o coletivo, este não esperava os apaixonados. Escolheram como temas a saudade que ficou da conversa que tiveram, o medo de nunca mais se falarem e a esperança renascida. O tempo passou e as xícaras ainda estavam cheias, mas era preciso partir. Tomaram o pingado num gole, pagaram e saíram apressados. Não tiveram tempo de marcar novo encontro, mas já não era importante. Estavam conectados e apaixonados.

CAPÍTULO 4

Estavam conectados e apaixonados…

Novela da Vida Real – uma ficção…continua

….
Se conheceram pela internet e se apaixonaram.

  CAPÍTULO 2

Se conheceram pela internet e se apaixonaram. Foi amor à primeira teclada, depois de acessarem ao mesmo tempo um site de relacionamentos, era tarde da noite e o papo foi evoluindo, no outro dia tinham que acordar cedo, mas isto já não era o mais importante. O assunto parecia não ter fim, e por longo tempo não teve mesmo, curtiram as fotos de paisagens e locais visitados, se deliciaram com GIFs engraçadinhos, todas as perguntas eram respondidas, gostos musicais, filmes preferidos, os locais já visitados que foram postados, eram tantos os assuntos que não se tocaram que os álbuns de fotos só tinham imagens de paisagens e cidades, nenhum rosto. talvez não fosse importante naquele momento. A única imagem que tinham um do outro era uma foto 3 por 4, em preto e branco, retocada, uma com uma paisagem ao fundo, a outra mostrava apenas um abajur e um porta retrato que parecia ser espelhado. Para não perderem a oportunidade de um novo encontro, combinaram a conversa para o dia seguinte, em hora previamente estabelecida, ao menos para começar. Naquele resto de noite mal dormiram, muitos assuntos ficaram pendentes. As únicas certezas naquela noite era que se conheceram na internet e estavam apaixonados.

CAPÍTULO 3

As únicas certezas naquela noite eram duas, que se conheceram na internet e estavam apaixonados. 
…..

Novela da Vida Real – uma ficção

                                                                                                 CAPÍTULO 1

Se conheceram pela internet, moravam na mesma cidade, eram do mesmo bairro, suas casas ficavam em ruas paralelas, o que os separava era apenas um quarteirão e alguns passos, talvez tivessem amigos em comum, provavelmente parentes distantes. Frequentavam os mesmos lugares, tomavam café na única padaria que servia pão na chapa com queijo e pingado, a diferença é que um gostava de mais leite e o outro menos café, sentavam em banquetas dispostas por todo o balcão, de frente um para o outro, mas nunca se olharam. Tomavam o mesmo coletivo para o centro da cidade, no mesmo horário e quase sempre os únicos bancos que restavam eram de frente um para o outro, sentavam, mas nunca se olharam. Todos os dias na biblioteca, escolhiam ficar na mesa coletiva, que tinha mais espaço e tomadas, além de acesso grátis à internet, escolhiam cadeiras de frente um para o outro, abriam seus livros e portáteis, mas nunca se olharam. Faziam as refeições em um restaurante pequeno, aconchegante, de decoração acolhedora, daquelas que convidam o amor a sentar à mesa, cada um a seu modo, de frente um para o outro, mesas próximas, mas nunca se olharam. Voltavam para casa, andando pelas ruas e apenas se preocupavam em observar o semáforo, sinal verde dizia que podiam seguir com segurança, no amarelo era preciso ficar atento e no vermelho nem pensar, melhor manter a cabeça baixa e esperar, nunca se olharam.
Se conheceram pela internet e se apaixonaram.

CAPÍTULO 2

Se conheceram pela internet e se apaixonaram…

Crônica de um sujeito sem rumo

Fazia planos todas as noites, esperando começar a realizá-los logo que o dia amanhecesse. Mas o sono não vinha, se vinha era por pouco tempo, sobrava tempo para mais reflexões e mais planos eram idealizados, diante da percepção de que muito ainda podia ser feito para alterar por completo aquela vida que estava ali, por tanto anos, parada, no mesmo lugar, sabotando qualquer tentativa de fazer diferente.Amanheceu, agora sonolento pela noite mal dormida, já não se lembra de todos os planos traçados, os poucos que se recorda pensa que podem ficar para outro dia, o sono tardio convida a ficar na cama.

Desperto, já tarde do dia, percebe que nada mudou, acordou, tomou café, ouviu a música de sempre, comeu a refeição e deitou novamente, depois de tentativas de sair daquela rotina. Já não importavam os planos traçados na noite anterior. Dentre os poucos de que ainda se recorda, para cada um, uma desculpa para começar a colocá-los em prática mais tarde.

Com a tarde indo embora e a noite querendo se mostrar, percebe-se sem rumo, nada fez, permitiu que a vida continuasse exatamente como está. Fez um lanche, comeu uma fruta e tomou um gole de café. Em frente à televisão hipnotizado e sem esperança, fazendo-se acreditar que os planos não eram para hoje e que poderiam ser colocados em prática amanhã, quando aquelas desculpas já não fizessem mais sentido e outras não pudessem ser inventadas, espera por nada, até a hora de tomar um copo de leite e deitar novamente.

A noite chegou, deitado, é hora de refazer os planos, pensar nos motivos e desculpas que impediram fossem realizados e ter esperança de que estes novos planos lhe darão um rumo diferente, mas o sono não vem.

(GeraldoCunha/2016)

Crônica urbana

Fico triste em saber que não vou ouvir nas madrugas “filme triste” tocada e cantada ao acompanhamento de um violão nas madrugadas de sábado. Tinha vida naquele apartamento, era o que eu imaginava. Essa sinfonia de meia-noite às seis da manhã em alguns fins de semana era minha companhia e eu, em minha ignorância, odiava. Hoje sinto falta. Não sabia o que tinha por trás daquela canção, insistentemente cantada a cada final de encontro. Mas certamente havia uma razão de ser. Nunca saberemos qual é a verdadeira história que se escondia na porta ao lado. (Gcc/2016)

O domingo é de paz

O domingo é de paz. Não ter hora para acordar, mesmo acordando muito cedo. Tomar um café desajustado e arrumar um ‘trem’ aqui outro ‘trem’ ali, escondendo cacarecos nas gavetas. Abrir frestas nas janelas para deixar o sol entrar e um pouco de vento também. Pensar em não pensar em nada, só contemplando o silêncio daqueles que ainda dormem. Aos poucos ir percebendo o movimento lá fora, aqui dentro aquela música bem baixinho, meio que egoísta até. O domingo vai acontecendo, sem se perceber, carros começam a transitar, abafando o canto dos pássaros que até a pouco sentiam-se majestosos no meio desta paisagem urbana. Sentem que é hora de levar seu canto para longe, onde possam ser ouvidos, e partem. Voltam no próximo domingo, com certeza. Ao longe uma criança grita, um cão ladra, uma senhora conversa, mas nenhum gato mia, estes são da noite, estão a dormir. Dá aquela vontade tímida de sair ou ficar, de fazer ou deixar pra depois. O domingo tem disso, uma preguiça gostosa, que chega a ser saudável, um ‘deixa pra depois’ implicitamente justificado.
(GeraldoCunha/2016)

(trem: modo de expressar da cultura popular mineira)