Série sentimental – Velhice melancólica

Hoje acordei triste,
Manhã daquelas melancólicas.
Pensando nas despedidas
E as mudanças decorrentes.

Envelhecer e ver as pessoas morrendo de velhice entristece.
É o passado que vai sendo desfeito,
Somos nós que vamos deixando de ser futuro, presente e passamos a ser o passado.

Tem manhãs destes desatinos
Em que a nostalgia sacoleja a cabeça.
E eu me pergunto onde estão todos?
Hoje estão nas fotografias esquecidas.

Do colorido que a velhice deveria,
Vejo em preto e branco… fantasmas.
Em câmara lenta envoltos na neblina perambulam.
Circulando entre as cores que já não importam.

Nos olhos tristes a felicidade roubada.
Na boca o sorriso abandonado.
No silêncio a certeza de que o mundo está ficando surdo.
GeraldoCunha/2021

13 Comments

  1. Li e reli e me escorregam como água entre os meus dedos as palavras. Penso que podemos suportar tudo ou quase tudo desde que nossa palavra seja escutada, mas o que assusta não é o silêncio dos bons – sempre podem falar – e sim a surdez do mundo. Um grande abraço, Geraldo, teu poema gritou alto aqui.

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  2. Não sei se entendi bem, meu caro, Geraldo. Mas, ver pessoas morrendo de velhice, me parece o melhor dos mundos.., É natural! Já ver pessoas morrendo ainda crianças ou jovens! Eis o desatino. Se é que interpretei adequadamente.

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    1. Estevam, desde já, obrigado pela interação, muito bom falar da construção dos poemas. Compreensível sua anotação, contudo o poema não fala da morte em si.
      Escrevo o relato de uma nostalgia, a partir da minha observação de uma pessoa idosa conhecida, que se vê envelhecendo e neste processo natural, em que vai perdendo seus elos com o passado, pelas mortes dos mais velhos (suas memórias), vê-se solitária, especialmente pelo descaso e abandono dos mais jovens, surdos aos seus anseios. Não deveria ser assim, concordo. Porém acontece em muitas famílias, em que os idosos vão sendo postos de lado, abandonados e se entristecendo!
      Esta percepção que me trouxe tristeza foi ao encontro de uma leitura que fazia à época do livro “a máquina de fazer espanhóis” de Walter Hugo Mãe (meu escritor Português atual predileto, depois de Saramago, sempre), este trecho me marcou profundamente:
      “a laura morreu, pegaram em mim e puseram-me no lar com dois sacos de roupa e um álbum de fotografias. foi o que fizeram. depois, nessa mesma tarde, levaram o álbum porque achavam que ia servir para que eu cultivasse a dor de perder a minha mulher”. (Obs: todo o livro é escrito em minúsculas, à exceção de um capítulo apenas … estes escritores…). Abraço!

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      1. Seu comentário/resposta é um outro post. Não apenas li atentamente, como vou refletir profundamente, para quem pretendo viver longamente, meu caso.
        Sempre grato pela interação e inspiração.

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