(série: Ensaios/experimentações – poema produzido na Oficina O Cinema da Escrita)
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A câmara no meio da rua registra. De um lado, botas brancas em foco. Passos nervosos. Dividida a tela, do outro lado, óculos escuros. Em movimentos tensos. O plano é fechado. O sol teima em brilhar. Caminham na mesma direção. De lados opostos do passeio. Cruzam a câmara que se desloca rapidamente. À frente o letreiro anuncia. Love Store – Uma História de amor. Ao fundo já se houve ao piano “theme from love story”. Do lado de fora a trilha sonora é outra. Som dos carros, buzinas, apitos, a criança que chora. Bilhete entregue ao olhar desatento do lanterninha. Cabeça baixa. Agora em plano aberto caminha. Por detrás a cortina vermelha que se fecha. À frente a câmara vai em direção às cadeiras vazias. Na penumbra só uma ocupada. Desfaz-se do lenço que protegia. Senta ao lado, se olham discretamente. Corte para as mãos que se tocam. Alianças esquecidas. Voltam ao passado. A câmara passeia pelas paredes manchadas e do fundo se projeta para a tela. Os protagonistas se beijam. O filme já vai terminar.
(GeraldoCunha/2019)
Gostei do ritmo e das “passagens de cena”, muito bom!
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Obrigado Daniel. Esta linguagem é chamado de “Efeito de Câmara na Literatura”, não conhecia e achei muito interessante, por trazer para a literatura a linguagem do cinema, estamos mais acostumados com o contrário. Gostei demais, pela liberdade criativa. Uma referência é o autor Gonçalo M. Tavares: Short Movies. Abraço. …ah!!! Vou começar hoje leitura de Amor Líquido/Bauman – sua indicação 👍
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Opa, que interessante! Não conhecia a linguagem. Ah, do Bauman você vai gostar… Se jogue!
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Muito bom. Conciso, com ritmo certo na lente.
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Obrigado Odonir, que bom que gostou. Uma forma diferente de escrever não é? desafiadora e instigante para quem escreve e para quem lê. Estou aprendendo ainda…Abraço !
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