O domingo é de paz. Não ter hora para acordar, mesmo acordando muito cedo. Tomar um café desajustado e arrumar um ‘trem’ aqui outro ‘trem’ ali, escondendo cacarecos nas gavetas. Abrir frestas nas janelas para deixar o sol entrar e um pouco de vento também. Pensar em não pensar em nada, só contemplando o silêncio daqueles que ainda dormem. Aos poucos ir percebendo o movimento lá fora, aqui dentro aquela música bem baixinho, meio que egoísta até. O domingo vai acontecendo, sem se perceber, carros começam a transitar, abafando o canto dos pássaros que até a pouco sentiam-se majestosos no meio desta paisagem urbana. Sentem que é hora de levar seu canto para longe, onde possam ser ouvidos, e partem. Voltam no próximo domingo, com certeza. Ao longe uma criança grita, um cão ladra, uma senhora conversa, mas nenhum gato mia, estes são da noite, estão a dormir. Dá aquela vontade tímida de sair ou ficar, de fazer ou deixar pra depois. O domingo tem disso, uma preguiça gostosa, que chega a ser saudável, um ‘deixa pra depois’ implicitamente justificado.
(GeraldoCunha/2016)
(trem: modo de expressar da cultura popular mineira)